Imagem: Escola Josep Maria Jujol, Barcelona |  créditos: Mariana Almeida

Texto por: Mariana Almeida

Após terminar o Mestrado em Arquitetura e dar início ao meu estágio estava certa de que algo faltava. Sentia que trabalhar exclusivamente em Arquitetura não seria suficiente. Era como se a minha criatividade tivesse sido empacotada ao longo dos anos e guardada numa dispensa nas traseiras do meu cérebro. Decidi por isso mesmo refugiar-me numa Pós-Graduação em Ilustração, numa tentativa de reativar este meu lado mais artístico.

Foi uma decisão que me ofereceu novas oportunidades, numa área estritamente criativa, que na altura era o que eu procurava. Mais tarde, quando estava a terminar um estágio de Ilustração em Malta, sabia que era extremamente importante conseguir tirar partido de um tempo indeterminado, que me proporcionasse a oportunidade de me redescobrir enquanto artista.

Museu MACBA - Barcelona
Museu MACBA - Barcelona créditos: Mariana Almeida

Motivada por um conjunto de fatores, decidi que o próximo passo a dar seria candidatar-me a uma bolsas gap year e decidi concorrer à bolsa municipal do projeto ‘Emunicipa-te’ em parceria com o município de Odemira.

Lembro-me perfeitamente que o meu primeiro esboço estava destinado para um continente completamente diferente daquele que, na verdade, acabou por fazer parte do plano final.Na altura estava extremamente segura do meu propósito para realizar um gap year e sabia que este tempo de pausa e reflexão teria de acontecer de alguma forma. No entanto, o primeiro roteiro que idealizei, por alguma razão não encaixava com o meu propósito até que um dia percebi que aquele definitivamente não seria o meu plano.

O meu gap year teria de acontecer noutra direção e com menos de duas semanas para refazer uma proposta totalmente nova, voltei às pesquisas, às tabelas, aos links, às listas e aos mapas. Na verdade, foi mais fácil na segunda vez, de alguma forma os objetivos e itinerário estavam mais alinhados que nunca.

Plano do gap year
Plano do gap year créditos: Mariana Almeida

Decidi então realizar o meu gap year por terras europeias e o desenho tornou-se realidade. A prova disso mesmo, é eu estar a escrever este artigo diretamente da Biblioteca de la Ciutadella em Barcelona.

Normalmente não costumo ter muita clareza sobre os passos a dar no futuro, mas por alguma razão, naquele momento, as ideias, os objetivos, os sonhos e no fim o plano, foram todos providos de muitas certezas.

Penso que, em parte, tive a sorte de me encontrar na finalização de uma etapa, que me proporcionou o impulso necessário e a coragem de arriscar e confiar num futuro rodeado pela arte. E, ao mesmo tempo, a coincidência de estar a ler um livro altamente gratificante, que resumidamente fala da importância de cada um de nós encontrar o seu elemento.

“The Element is the point at which natural talent meets personal passion. When people arrive at the Element, they feel most themselves, most inspired and achieve at their highest levels.”
In The Element, Ken Robinson, Ph.

Museu Nacional d'Art de Catalunya - Barcelona
créditos: Mariana Almeida

Restava-me definir os objetivos que iriam complementar a proposta do roteiro, ou seja, metas que seriam realizadas durante a viagem e que consequentemente estariam interligadas com os vários destinos a atravessar.

Estabeleci duas etapas principais: o desenvolvimento da expressão artística e a captação de perspetivas humanitárias e ambientais.

Após determinado o plano em termos de conceitos e objetivos, sobra apenas a construção logística e prática da coisa.

Para mim era extremamente importante pensar na forma como me iria deslocar entre países. Há uns anos fiquei submersa na temática da sustentabilidade e hoje em dia acabo por viver com a responsabilidade de tomar decisões, que de alguma forma minimizem o meu impacto, nesta situação tão delicada e crítica que enfrentamos, falo da crise climática.

Desta forma, não me pareceu fazer sentido, usar uma quantidade absurda de aviões, durante um curto espaço de tempo, especialmente num roteiro a ser realizado na Europa. A proposta seria até ao fim da viagem excluir o avião como primeira opção, usufruir das linhas de comboio europeias e em último recurso autocarro e assim a viagem ganha um impacto pessoal muito maior, com um impacto ambiental muito menor.

Gare das Amoreiras, Portugal
Gare das Amoreiras, Portugal créditos: Mariana Almeida

Para além da mobilidade, uma das questões mais importantes para mim, seria o alojamento. Defini que, na maioria das minhas estadias, o alojamento seria feito com recurso a plataformas como: Couchsurfing e WorkAway. Estar em casa não deixa de fazer parte da experiência e eu queria que esse tempo também tivesse valor. É sempre um ganho quando se fica com famílias ou pessoas, que acabam por ser uma espécie de reflexo do lugar e da cultura dos nossos destinos.

No fundo acho que, para se colocar em boa prática um plano, terá de existir sempre alguma organização por detrás dos nossos conceitos e objetivos principais, não apenas para garantir que é funcional, mas que também é credível.

No entanto, eu acredito, que por detrás dessa logística toda, tem sempre de existir um pedaço de nós, da nossa própria essência. Faz a diferença que em qualquer tipo de projeto que façamos para as nossas vidas, que este seja realizado com base naquilo em que acreditamos e nos nossos sonhos.

Na verdade, o inesperado nunca é planeado, mas indiscutivelmente fará sempre parte do plano. Tudo pode mudar e seguir noutra direção completamente diferente, mas um sonho, é um sonho e este acaba por ser o grande embaixador do caminho. Cabe a cada um reconhecer o seu sonho e o que o move. Um sonho, um gap year, são apenas os patins, mas a pista, somos nós que desenhamos e as escolhas são sempre nossas.

Penso que estou longe de atingir o meu “highest level” como diz Ken Robinson, mas este planeamento acaba por ser a intenção de embarcar numa nova experiência, que certamente me irá proporcionar o tempo necessário para explorar o Elemento e encontrar o meu propósito no mundo da arte.

E assim criei o ARDA, com o propósito de seguir “ao ritmo da arte” um roteiro pela Europa durante oito meses.

Projeto “ARDA”

Durante 8 meses a Mariana vai se aventurar pela Europa, depois de vencer a segunda edição do “Emunicipa-te” do concelho de Odemira, um projeto de bolsas municipais de gap year.

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