Ana Abrão (@ana.abrao.photo) tem dedicado as suas viagens aos lugares mais fascinantes do mundo, especialmente na Ásia, na perspetiva do explorador e ‘tomb raider’. Ela procura o remoto para conhecer e nos recontar sobre culturas, pessoas e eventos de vida que remanescem qual templos perenes. E é disto que este artigo hoje retrata através de uma review ao seu novo livro intitulado "Kalasha- Fotografias e histórias do povo animista das montanhas do Paquistão".
Recebo este livro de Ana Abrão, após o mais recente artigo no SAPO, e senti-me literalmente a viajar. E gratíssima. Tive algum ‘problema ansioso’ em tentar sorver todo o livro, porque quer as imagens, quer o texto de Ana Abrão consomem os sentidos de uma forma inigualável.
Não é um livro de viagens, não é um diário de bordo, não é um álbum de gente. É tudo num conjunto de páginas duras e de elevada qualidade. Entramos nas cores - como ela bem descreve “vibrantes” - dos trajes culturais do povo animista que vive em algumas vilas construídas desde há muito nas montanhas paquistanesas. E as cores continuam iluminadas nos olhos de tantas mulheres que se tornam retrato indomável no livro. Olhos azuis e verdes tão especiais e abundantes nesta comunidade, os Kalash.
Depois, o contraste com o negro que ronda as fogueiras e o interior de templos nas montanhas. Enquanto vejo e leio o livro, parece que também entro nos rituais de purificação, nas conversas tentadas com várias famílias, no chá com o pão que me recorda as minhas próprias viagens exóticas perto desse país; entro no dia da morte que é o dia mais importante da vida (para os Kalash); entendo os gestos e imagino-me a caminhar com a Ana pelas trilhas onde ela decidiu fazer história. A partir das estórias que ali já residem, apesar dos conflitos que a tribo enfrenta perante outros povos do mesmo e enorme país.
A cada página garanto aos leitores e viajantes que se arrepiarão com os retratos e com os posters tão bem conseguidos que só os ângulos da fotógrafa permitem. A sua lente foi sempre bem acolhida por um povo tão caloroso e que acolheu a autora como um dos seus.
Algo muito importante a denotar: o livro oferece a possibilidade de leituras em português e em inglês, mas também em formato áudio (tem QR Code nas páginas). O livro está completamente bem pensado, inclusivo, e surpreende desde a capa com a senhora Kalash, a mais idosa da comunidade, mas que não sabe o tamanho da sua idade. E para quê estarmos a contar os dias da nossa vida se o que o povo Kalash nos ensina é que a morte é o dia mais belo e respeitoso. Onde maior homenagem nos é prestada.
Saboreiem o livro, as refeições da autora à mesa dos Kalash, as suas pausas curtas por causa do frio desabrido, as suas danças com as crianças e adultos sob o luar da fogueira. Há mais e tanto mais que se eu me alongasse na narrativa, não seria novidade.
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