Os apreciadores de lugares abandonados têm de colocar este na lista. Imponente, o farol da Ponta dos Rosais é visto ao longe e destaca-se no noroeste da ilha das fajãs.

Esta parte da ilha conquista-nos pelos amplos espaços desertos e pelas falésias em tons acastanhados. Quando começamos a percorrer a estrada de terra batida da Ponta dos Rosais, ladeada de verde, parece que entramos numa ilha diferente.

Este farol abandonado fica num dos lugares mais fantásticos da ilha de São Jorge
Estrada de acesso à Ponta dos Rosais créditos: Alice Barcellos

O fim da estrada é o fim da ilha, o extremo noroeste, a 260 metros acima do nível do mar. Falésias escarpadas onde está assente o farol. Mas, antes de lá chegar, fazemos uma pausa para apreciar a vista da antiga vigia da baleia.

Subimos ao topo da torre, utilizada na altura em que se caçavam baleias nos Açores, atualmente, um miradouro espetacular para várias ilhas do arquipélago: Pico, Faial, Graciosa e Terceira – se o tempo assim o permitir –, bem como para a imensidão de oceano circundante. É mais uma daquelas vistas que ficam na memória. No andar de baixo, existem alguns painéis que explicam um pouco mais sobre a baleação nas ilhas do triângulo.

Este farol abandonado fica num dos lugares mais fantásticos da ilha de São Jorge
Vista para a ilha do Pico a partir da vigia da baleia créditos: Alice Barcellos

Seguimos viagem até chegar ao fim da estrada e paramos o carro. Ali está a entrada do farol intrigante. Algumas placas deixam o alerta que, caso aconteça algum acidente na área, a Autoridade Marítima Nacional não se responsabiliza. Estamos por nossa conta e, por isso, todo o cuidado é pouco.

Este farol abandonado fica num dos lugares mais fantásticos da ilha de São Jorge
Farol da Ponta dos Rosais créditos: Alice Barcellos

Um farol que teve vida curta

Quando foi inaugurado, a 1 de maio de 1958, era o farol mais tecnologicamente avançado da rede portuguesa. Além da torre com 27 metros de altura, foram construídas outras infraestruturas que permitiam a subsistência de seis famílias de faroleiros que ali se estabeleceram. Em 1961 foi construída uma garagem e em 1962 foi instalado um posto telefónico. A comunidade era autossuficiente em energia e água.

Até que em 1964, uma crise sísmica obrigou a evacuação do espaço a 18 de fevereiro. O mecanismo de rotação do farol ficou avariado e a estrada de acesso bloqueada por vários pedregulhos que só foram removidos com acesso a dinamite, de acordo com informações disponíveis no site da Autoridade Marítima Nacional.

A 12 de março do mesmo ano, reparadas as avarias e findada a crise sísmica, o farol regressa à normalidade. Até que a 1 de janeiro de 1980 um forte sismo de 7,2 na escala de Richter atinge várias ilhas do arquipélago dos Açores, danificando todos os sistemas de funcionamento deste farol e provocando várias derrocadas na Ponta dos Rosais.

Desde então, o lugar está abandonado, restando apenas as estruturas das construções. No entanto, é possível identificar onde ficavam as casas, as oficinas, os celeiros e os estábulos. Apesar de ter ficado sem habitantes, o farol continua a dar luz através de uma lanterna alimentada pela energia solar, instalada em 1987.

Se for visitar o espaço, tenha cuidado, principalmente, na zona das falésias da Ponta dos Rosais, além de estar numa área protegida, as falésias são marcadas por fendas e reentrâncias. Desde o sismo, esta é considerada uma área instável pelo que é proibido construir. Não ultrapasse os limites dos muros do farol.

Na Ponta dos Rosais compreendemos porque é que foi atribuída a cor castanha à ilha de São Jorge pelo escritor Raul Brandão e também porque é que recebeu a alcunha de ilha do dragão – a forma alongada e escarpada da ilha assemelha-se a um dragão adormecido no Atlântico.

Para completar o cenário surreal, dois ilhéus de cada lado do promontório – são os ilhéus dos Rosais, santuários para muitas aves marinhas que ali nidificam.

Este farol abandonado fica num dos lugares mais fantásticos da ilha de São Jorge
Falésias da Ponta dos Rosais créditos: Alice Barcellos

O SAPO Viagens visitou São Jorge a convite do Turismo dos Açores