A noite mais longa do ano, dizem. Talvez porque começa muito antes do sol se pôr e termina quando a aurora já vai longe. Ainda são 15 horas, mas, para muitos, já são 15 horas. Tanto a ser feito, tão pouco o tempo. Os grelhadores já fumegam e as bancas de cerveja estão a ser montadas. O barulho dos martelinhos já se faz ouvir - e sentir, quando um turista mais atrevido acaba de descobrir que pode, como uma criança com um novo brinquedo, usar e abusar das marteladas. Aqui e ali, a música popular dá ainda mais cor às ruas enfeitadas. 

A programação do S. João no Porto foi dividida por três palcos em diferentes pontos da cidade. O Largo do Amor de Perdição, na Cordoaria, os Jardins do Palácio de Cristal e na Casa da Música foram os locais escolhidos. O primeiro acolheu os concertos de Fernando Correia Marques e de Augusto Canário. Junto à Super Bock Arena, o palco (depois do sofrido Suíça - Alemanha, do Euro 2024), recebeu a “Casa da Guilhermina” e a incomparável Ana Moura. Coube à Orquestra Bamba Social animar o resto da noite, naquele espaço. Por fim, na Casa da Música, um concerto-tributo a José Pinhal pelo grupo que o trouxe de novo para os palcos e os DJ sets de Hipster Pimba e Pop’lar.

São tantas as tradições, antigas e modernas, que se começam a perpetuar no S. João, que acompanhá-las é um dos desafios da noite. A programação começa com a oferta de manjericos à população, junto da Câmara Municipal. O cheiro do manjerico e a quadra popular invadem os Aliados. Uma hora mais tarde, pelas 18 horas, os Presidentes da Câmara de Vila Nova de Gaia e do Porto encontram-se no tabuleiro inferior da Ponto D. Luiz, para um Porto de honra. Que comece a festa!

Num mundo demasiado rápido, onde muitos se esquecem das raízes e tradições que nos individualizam, procuramos rostos que ainda contam histórias, rugas (já ninguém tem rugas!) com um passado que queremos abraçar, e pregões portuenses, onde o calão é a mais linda forma de expressão.

Seguimos pela ribeira, com um calor (quase) insuportável. Não fosse noite de S. João, e deambular pelas ruas e vielas de um Porto tão invicto como belo, seria “apenas” mais um passeio. O cheiro a sardinha assada, a música popular, o apito dos martelos dão vida a uma cidade já tão preenchida de si.

O sol começa, finalmente, a dar tréguas e uma lua cheia vermelha vem juntar-se à festa. Até a lua se vestiu de cor para iluminar as centenas de balões que começam a subir aos céus. Turistas e locais lançam, ao vento, os seus balões de ar quente, cumprindo tradições, que nem uns nem outros conseguem justificar. «Porque sim! Porque é tradição!». Uma tradição associada ao solstício do verão e a um ano de boas colheitas, para espantar males e agradecer. Hoje, é a beleza de os ver voar, sem arder no lançamento, que incita a tradição.

Sardinha assada na brasa sobre uma generosa fatia de broa e o melhor vinho da região perpetuam outra tradição do S. João, e de todos os Santos Populares. Nunca a sardinha sabe tão bem como nesta noite.

Meia-noite, finalmente! O monumental fogo de artifício é (mais) um ponto alto da Festa. Maravilhados, olhamos o céu que se ilumina, as cores que nos enchem os olhos de esperança e a confiança que só um cenário tão mágico como aquele consegue aportar. Quase instigados a começar, a partir dali, um novo ano. Às vezes, o calendário é só um mais um dia, mas o S. João e as suas maravilhosas tradições, marcam horas e dias, numa noite sem fim.

A alegria, tão genuína, tão expressiva e tão encantadora, numa festa que um rio tornou mais grandiosa, fazem das Festas de S.João, no Porto e em Gaia, um evento a viver (pelo menos) uma vez na vida.