O antigo presídio-lazareto da Trafaria é uma viagem pela memória histórica. A memória de outros tempos obscuros da nossa História. E apetece dizer: Nunca mais! Em tempos idos, milhares foram os viajantes, degredados e presos políticos que aguardavam a sua próxima viagem: a ida para o ultramar português. Para muitos, a Ponta da Areia – Trafaria – era a sua última morada em Portugal e, para a maioria, da sua vida.

A Trafaria, em virtude da sua posição geográfica, localizada junto à foz do estuário do Rio Tejo, despertou o interesse estratégico das autoridades governamentais para a defesa militar da entrada da barra do porto e cidade de Lisboa. A primeira fortificação foi construída no século XVII, durante o reinado de D. Pedro II, junto às instalações do antigo lazareto do século XVI. Importa referir que a antiga esplanada de artilharia – guarnecida com 12 peças de artilharia – foi demolida no início do século XX, aquando das obras de construção do novo presídio.

Trafaria: uma viagem pela história do forte-presídio
Presídio da Trafaria créditos: DR

Em virtude do clima belicista das potências europeias imperialistas (Inglaterra,França, Alemanha ou Rússia) no último quartel do século XIX, Portugal sentiu necessidade de construir e guarnecer a sua frente atlântica, em especial nos estuários do Sado e do Tejo, com uma rede de fortificações e equipamento bélico dissuasor consoante as restrições orçamentais que vigoravam durante regime monárquico. Assim, no princípio do século XX, entre 1902 a 1909, ocorreu o maior empreendimento de engenharia militar do concelho de Almada: a construção de um conjunto de fortificações Baterias de Artilharia de Costa de Alpenas e da Raposeira e do Quartel do Grupo de Artilharia N.º4 na freguesia da Trafaria.

Nesta empreitada militar foram construídas infra-estruturas – uma ponte cais e de uma linha férrea – destinadas ao transporte de matéria-prima, artilharia naval e munições para guarnecer as futuras baterias de origem alemã Krupp  que se localizavam no topo do Monte da Raposeira e na Arriba Fóssil da Caparica.  O Quartel da Trafaria, inaugurado em 1905 pelo Rei D. Carlos, era utilizado para alojar a guarnição militar que servia nas baterias anteriormente mencionadas. Mais tarde, passa a designar-se Quartel da Brigada de Artilharia de Costa N.º1. Na segunda metade do século XX, passa a designar-se Batalhão de Reconhecimento e Transmissões. Actualmente, encontra-se afecto à Guarda Nacional Republicana.

De lazareto a presídio

O lazareto-presídio da Trafaria foi construído na segunda metade do século XVI (1565), durante o reinado de D. Sebastião, na regência do Cardeal D. Henrique. Este mandou construir um complexo, em nome do seu sobrinho-neto, para o recolhimento de matérias-primas e viajantes do Império Ultramarino Português (1415-1999). Tratava-se, assim, de uma medida de controlo sanitário e aduaneiro  rigoroso, para um dos maiores complexos portuários da Europa à época.

Trafaria: uma viagem pela história do forte-presídio
Forte Prisional da Trafaria créditos: OLIRAF

Ao longo do edifício e das celas que constituem o núcleo do forte-presídio, tivemos oportunidade de contactar com um percurso expositivo que, através de referências históricas, documentais e iconográficas, nos elucidou sobre a origem do património histórico-militar edificado, das dinâmicas económicas, locais e religiosas que fizeram, e fazem, desta localidade da margem sul do Tejo, um local singular para muitos portugueses.

No final do regime monárquico, no reinado de D. Manuel II, foram construídas as instalações da Casa da Reclusão da Trafaria. Com a implantação do regime republicano, serviu de prisão militar para os monárquicos envolvidos na revolta do Monsanto. Entre o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e a Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974, este forte ficou associado à prisão de muitos civis e políticos que combateram a ditadura militar e o Estado Novo, na tentativa de derrube do regime. Para muitos, este presídio-militar foi a sua morada final.

Trafaria
créditos: OLIRAF

Como chegar

A partir de Lisboa, o trajecto mais acessível para esta localidade da margem sul, é através da via fluvial. Para tal, basta apanhar o cacilheiro ou o ferry-boat que faz as ligações fluviais entre Belém e a Trafaria. Eu fui no Eborense. A viagem custou 1.20 €. Para consultar os horários e os preços, poderá saber mais na Transtejo. Esta é a empresa que assegura a Ligação Trafaria – Porto Brandão – Belém.

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF

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