Com essa ponte, seria possível atravessar da Calábria para a Sicília em quinze minutos de carro, graças a uma rodovia de seis faixas, e também de comboio.

No entanto, os fortes ventos que atingem o estreito de Messina, às vezes com rajadas de mais de 100 km/h, poderiam colocar em risco a estabilidade da ponte. Além disso, essa zona do sul da Itália está localizada no limite entre duas placas tectónicas e já foi palco de terramotos devastadores.

Apesar de tudo, o governo afirma que a infraestrutura será construída com a tecnologia mais avançada e que a parte suspensa entre dois pilares, assentes no mar, seria a mais longa do mundo, com 3,3 km.

A população, no entanto, está cética, uma vez que não são poucas as obras que, apesar de terem sido anunciadas e financiadas, nunca se tornaram realidade devido à corrupção ou à instabilidade política do país.

"A população local não confia na classe política nem nesses projetos, que se transformam em obras intermináveis", explica à AFP Luigi Storniolo, do coletivo No Ponte (Não à ponte).

O governo italiano pretende investir 13,5 mil milhões de euros, financiados pelo Estado com uma contribuição das regiões.

Segundo o ministro de Infraestruturas e Transportes, Matteo Salvini, a ponte "será um acelerador do desenvolvimento" e servirá para impulsionar as trocas comerciais com a Sicília, que exporta principalmente produtos petrolíferos.

Atualmente, a Sicília é afetada por um "custo de insularidade" de cerca de 6,5 mil milhões de euros por ano, afirma um estudo publicado pela região.

Espera-se que o Executivo aprove o projeto neste mês de junho e que as obras comecem "neste verão", segundo Salvini. Supunha-se que deveriam ter começado no verão de 2024, mas foram adiadas.

A primeira lei que previa a construção dessa ponte data de 1971 e, dez anos depois, foi fundada a empresa que deveria edificá-la, Stretto di Messina Spa.

Durante décadas, governos sucessivos cancelaram o projeto e colocaram-nos novamente na gaveta, até que o Executivo central decidiu renunciá-lo em 2012, num contexto de crise da dívida.

Mas, desde que o governo da ultradireitista Giorgia Meloni chegou ao poder em 2022, tem defendido a iniciativa.

Para Salvini, a ponte de Messina seria também uma ferramenta de "luta contra a máfia" que "passa pela criação de oportunidades de emprego e esperança para os jovens da região".

No entanto, tanto especialistas quanto políticos locais temem que as máfias calabresa e siciliana, a 'Ndrangheta e a Cosa Nostra, respetivamente, acabem por tirar proveito deste projeto faraónico.

É que a máfia se adaptou aos tempos modernos e agora faz parte da economia local. Já não se impõem "com o fuzil, mas infiltram-se por outras vias mais sofisticadas", explica à AFP Rocco Sciarrone, doutor em Sociologia na Universidade de Turim e especializado em crime organizado.

A máfia integrou a economia legal por meio de empresas de fachada, testas-de-ferro e redes de corrupção, em setores como "as escavações, a fabricação de cimento e a contratação de mão de obra", segundo Sciarrone.