Num comunicado conjunto, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indicaram que a operação, que anualmente permite ligar a lagoa ao mar, não se realiza este ano, por causa da “situação de seca extrema, que afeta em particular o sul de Portugal”.

Devido às “condições climatéricas particularmente desfavoráveis” e “relacionadas com a situação de seca extrema”, não terá lugar a operação, “habitualmente executada por esta altura”, avançaram.

Em declarações à agência Lusa, o diretor regional da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, André Matoso, explicou que "esta realidade" de seca extrema "também afeta o corpo lagunar da Lagoa de Santo André", que apresenta um dos volumes "mais baixos” de que há registo.

Desde 2012 que a APA "assume esta responsabilidade e nunca tinha acontecido ter de suspender ou não abrir a lagoa", disse o responsável, admitindo "riscos" ou "problemas ambientais para a biodiversidade", caso se avançasse com esta operação.

"Havia o risco de ficarmos com ainda menos água e, aí, seria um problema ambiental para a biodiversidade ligada à Lagoa de Santo André. Por isso, entendemos que não estavam reunidas as condições para proceder à operação que anualmente é feita", acrescentou.

O cancelamento da abertura ao mar, inicialmente prevista para o dia 18 e, posteriormente, adiada para 31 deste mês, foi tomada após auscultação das restantes entidades envolvidas no processo, nomeadamente a Capitania do Porto de Sines, a Câmara de Santiago do Cacém e a Junta de Freguesia de Santo André.

De acordo com a APA e o ICNF, a decisão é justificada pelo “volume extremamente baixo de água acumulada na lagoa”, que não garante “potencial hidráulico suficientemente forte” para “a limpeza dos fundos no momento do rompimento da barra”.

E os níveis baixos de água na lagoa não permitem “manter o canal aberto durante um período de tempo razoável, de forma a garantir a troca de água doce e salgada em volumes minimamente razoáveis”, acrescentaram.

“Considera-se que a ligação ao mar, caso fosse executada nesta altura, seria potencialmente prejudicial para as comunidades de peixes, com prejuízos para a atividade piscatória, pois, seria provável a altura de água neste corpo lagunar ficar ainda mais baixa”, disseram.

A APA e o ICNF sustentaram ainda que, “a realizar-se nesta data assumidamente tardia”, a abertura da lagoa não seria benéfica para “a variedade de peixes” naquela reserva natural e “não iria resultar na entrada no sistema de alevins de enguia prateada”.

A decisão teve também em consideração “um significativo número de espécies de aves com elevado valor conservacionista e estatuto formal de proteção”, que “se encontra em plena época de reprodução, com ninhos construídos e posturas iniciadas”, concluíram.

A abertura da Lagoa de Santo André acontece todos os anos por altura do equinócio da Primavera e, além do espetáculo que a natureza proporciona, visa a renovação das espécies e a limpeza da água.