Por Julie Bourdin

Nas primeiras horas da manhã, já há montanhistas a convergirem na "Table Mountain", uma maravilha natural na Cidade do Cabo. Desta vez, todavia, o grupo reúne-se para protestar contra o aumento dos ataques a turistas e caminhantes.

Mary Lloyd, de 75 anos, faz parte do grupo de cinquenta manifestantes que se dizem alarmados com a onda de assaltos, com a aproximação da temporada turística na África do Sul, intensificada pelas férias de fim de ano e pelo verão no hemisfério sul.

Há duas semanas, esta aposentada fazia a sua caminhada diária pelas trilhas do maciço quando foi atacada por dois homens. "Eu não me sinto mais segura", declarou ela, ainda sensível pelo que se passou.

Os agressores amordaçaram-na, roubaram o seu telefone, as suas joias e ameaçaram cortar um dedo para tirar o seu anel.

Com lanternas frontais, os manifestantes seguravam cartazes que pediam "segurança na nossa montanha".

O local foi palco de 80 agressões este ano, segundo a autarquia. Em outubro, a associação "Amigos da Table Mountain" contabilizou um incidente a cada dois dias e, recentemente, membros da equipa de resgate foram assaltados durante uma operação noturna.

"Os criminosos veem os montanhistas como alvos fáceis", lamentou o presidente da associação, Andy Davies, que percorre diariamente as trilhas.

A montanha, conhecida pelo seu cume plano, costuma ser um "refúgio de paz" e uma "atração turística de primeira ordem", explica Davies.

"Galinha dos ovos de ouro"

A África do Sul possui taxas recordes de assassinatos e violações, com a reputação de um dos países mais perigosos do mundo.

Para as autoridades e profissionais do turismo, a recorrência deste tipo de crime em alguns dos lugares mais visitados do país é preocupante.

"A Table Mountain é um dos parques nacionais mais lucrativos do país", afirma uma guia de montanha, Kathy Leverton, de 39 anos, que percorre diariamente os trilhos do maciço com turistas.

"Não fornecer segurança é matar a galinha dos ovos de ouro", acrescentou. Agora "penso duas vezes antes de aceitar uma excursão ao amanhecer porque é perigoso esperar na escuridão", destacou Leverton.

A África do Sul recebeu quatro milhões de turistas nos primeiros seis meses do ano. Este setor contribui mais para a economia do que a agricultura - e, devido às suas trilhas e vistas impressionantes, a Table Mountain atrai anualmente milhares de visitantes.

Equipas de guardas e agentes policiais, apoiados por drones e helicópteros, patrulham o local. As autoridades afirmam ter "realizado várias prisões nas últimas semanas", embora recomendem também caminhar "em grupo" e cedo, já que a maioria dos casos ocorreu ao amanhecer ou à noite.

"Cerca de 240 mil pessoas dependem do turismo", explica o chefe de segurança e emergências da Cidade do Cabo, Jean-Pierre Smith.