As Ilhas Bermudas têm mais de português do que se imagina. Normalmente as Bermudas estão associadas ao mistério dos desaparecimentos de aviões e a naufrágios não explicados, mas nunca tal foi cientificamente comprovado como um fenómeno. E a BD do Mickey que eu lia quando era miúda – a aventura do Mickey e da Minnie nas Bermudas, durante um voo quase fatal – também não é prova, mas alicia a conhecer o mar empolgado das Bermudas. Empolgado porque ao largo das lindas e calmas praias temos as ondas fortes e enormes. Ora as ilhas são atrativas pela sua tríade caribenha e americana (ali mesmo na boca da Flórida e Miami), mas têm o português bem vivaço. Sabe como?

Ora foram os açorianos que consigo levaram sinais que quase içam ali a nossa bandeira desde há décadas (1960 em diante): emigraram para as Bermudas e fizeram do bife à casa um prato conhecido do menu de restaurantes destas ilhas. Depois, a cerveja de várias marcas lusitanas – Super Bock, Delta e Sagres – é uma das bebidas preferidas das Bermudas. E, graças aos corajosos açorianos, a língua portuguesa é tão falada como uma língua segunda nas imensas ilhas no triângulo atlântico.

Sabia disto? Quem o confirma é o Luís Filipe Gaspar que está lá e envia-me ‘postais digitais’ (ver galeria) que me fizeram dizer - “Parece as Berlengas!” - depois, observei melhor a parte verde e concordo com o Grande Viajante português (já visitou o mundo todo e agora está a revisitar) que mais compara as Bermudas aos Açores, nas paisagens, nas águas, na gastronomia e nos trejeitos linguísticos. Aliás, há um museu dedicado à emigração açoriana, incluindo outras origens do território português.

Esta emigração é uma das provas de que a rota americana (via água atlântica) sempre foi o sonho de muitos açorianos. Não a Europa. E isso está atestado em dissertações de doutoramento de colegas da Ciência. Tudo isto, sobretudo o mistério, a dificuldade da emigração e o sonho americano, me lembra agora a afamada série Rabo de Peixe ou Mar Branco. A vila Rabo de Peixe, nos Açores, sempre sofreu muito pela escassez de trabalho, de pessoas, de comida… mas não foi a única no arquipélago. Porém, o sofrimento que referi também é denotado nos emigrantes açorianos que ainda vivem nas Bermudas ou que de lá voltaram. O trabalho sempre foi melhor (pelo dinheiro necessário) do que no arquipélago ou no continente, mas a dificuldade era imensa pela estafa dos horários longos, quartos caríssimos em que vivem de forma contígua, além da exigência dos patrões locais. Assim, que tal a próxima temporada de Rabo de Peixe ser nas Bermudas já que terminou com duas das personagens no oceano rumo “à América”? Misterioso promete continuar a ser.

E outra coisa: estive numa conferência em Hong Kong e o principal orador era norte-americano e disse-me isto: “a melhor ilha que conheço no mundo é São Miguel”. Isto depois de eu ter dito que tinha vindo das Filipinas e elogiado as suas praias. Ora, então o sonho do americano virou açoriano. E confessou-o aqui à portuguesa. Por isto não esperava.