Adelè, da Lituânia, esteve largos meses em Portugal, recentemente, a realizar um estágio comigo, em Psicologia. Contou-me, perto do Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, que queria partir, daqui, para o Nepal e Índia. Precisava de uma caminhada ‘a solo’. Por vários motivos pessoais e profissionais. Dedicou março, abril e maio de 2025 a esta viagem, de corpo e alma. E escreveu-me sobre o que todos deveríamos saber para encetar uma viagem destas, o que todos deveríamos querer, na verdade, antes que o planeta se esgote.

A experiência de viajar para Índia e Nepal após um longo período de estudos

Durante muito tempo, tive o desejo de viajar por um período mais prolongado fora da Europa, mas não tive oportunidade enquanto estudava. Inicialmente, queria ir para a América do Sul para conhecer melhor a cultura e os costumes locais, mas acabei por decidir-me pela Índia e pelo Nepal. Ultimamente, tenho sentido que falta algo na Psicologia ocidental tradicional e comecei a interessar-me por ioga, um estilo de vida mais saudável, budismo, práticas de meditação e pela forma como estas abordagens encaram uma mente sã. Para além do forte desejo pessoal de conhecer essas regiões, senti também um interesse profissional, do ponto de vista psicológico.

Escolhi fazer um curso de dez dias no norte da Índia, nas encostas dos Himalaias, perto de McLeod Ganj, onde o Dalai Lama reside atualmente. O curso teve lugar no Tushita Meditation Centre, um centro focado no estudo do budismo da tradição tibetana Mahayana. Foi uma oportunidade maravilhosa, não só para conhecer os ensinamentos, mas também para começar a praticar a meditação.

Cada dia, desde a manhã até ao final da tarde, era preenchido com palestras sobre budismo ou sessões de meditação, com pequenos grupos de discussão. Fora dessas atividades, era fortemente encorajada a prática de silêncio absoluto, e os participantes eram convidados a não interagir uns com os outros. Para além disso, todos os alunos deixavam a tecnologia, incluindo os telemóveis, antes do início do curso. Este ambiente criou uma experiência única, onde toda a atenção se voltava para dentro — para aprender, escutar e meditar.

Apreciei particularmente a dieta vegetariana, o ambiente natural e os macacos que andavam à solta no local. Foi uma oportunidade especial para contactar com o budismo, não através de livros ou de ouvir dizer, mas diretamente com professores experientes. A presença de monges residentes e a simbologia budista rica — estupas, mandalas e muito mais — criavam uma atmosfera mágica, que permitia um desligar total do mundo exterior e uma exploração profunda do eu.

Acredito que ganhei não só aprendizagens para o meu crescimento pessoal, mas também, enquanto psicóloga, aprendi práticas que ajudam a acalmar e focar a mente, a cultivar o amor-próprio e a compaixão pelos outros, e a moldar uma nova perspetiva sobre como podemos compreender a mente humana. Estou a planear regressar a um centro semelhante, desta vez no Nepal, no Mosteiro de Kopan, para um curso mais longo.

Após ter observado algumas diferenças entre as abordagens orientais e ocidentais do ponto de vista psicológico, regresso a casa com o desejo de trazer uma nova perspetiva para a Psicologia ocidental. Naturalmente, as pessoas no Oriente são tão diversas como em qualquer outro lugar, mas parece haver um maior sentido de simplicidade, um foco em ajudar os outros, compaixão e cuidado pelo bem-estar mental e físico — através do ioga, da meditação e de práticas espirituais. Há menos neuroticismo e mais aceitação da realidade tal como ela é.

Acredito que questões espirituais, existenciais e religiosas — e os desafios que por vezes delas advêm — devem ter lugar no consultório de um psicólogo, porque são, de uma forma ou de outra, parte fundamental da condição humana. Regresso com o coração mais aberto e uma motivação mais clara para dar o meu melhor e ajudar as pessoas no meu país.

Como jovem viajante a viajar sozinha, o que recomendas a outros viajantes a solo?

Se for a tua primeira viagem, diria que o mais importante é dares tempo a ti próprio para te adaptares e garantires a tua segurança, tanto quanto possível. É claro que inevitavelmente acontecerão imprevistos. Em primeiro lugar, cuida da tua saúde: certifica-te de que tens as vacinas e medicação necessárias. Depois, recomendo que pesquises bem as regiões que pretendes visitar — lê avaliações dos locais onde vais ficar e aprende com as experiências de outros viajantes.

Para mulheres, especialmente, recomendo prudência nas grandes cidades: evita andar sozinha à noite, mantém-te em áreas movimentadas e veste-te de forma modesta. E o mais importante: mantém a mente aberta. Espera o inesperado, mergulha nas experiências culturais, visita templos, conversa com as pessoas, experimenta diferentes comidas e explora práticas tradicionais como o ioga e outras abordagens de saúde. Na minha experiência, o Nepal é mais seguro e fácil de explorar para um turista ocidental, mas a Índia é extremamente diversa e rica em cultura.