Não há muitos turistas, então a sensação de genuinidade do local é total. Não há estradas apinhadas de restaurantes para turistas nem operadores de turismo. Por essa razão aluguei uma mota e fui descobrir a área por minha conta. Já me sentia bem mais confiante para conduzir uma mota, e ainda bem, porque andar de mota em Hpa-An é incrível, graças à beleza das paisagens que me acompanhavam enquanto conduzia a maior parte do tempo sozinha pois o trânsito só se verifica bem no centro.

Hpa-An é a capital do estado Karen, mais um dos estados do Myanmar que quer independência e tem os seus costumes e cultura que não se assemelham com o resto do país. Aqui as pessoas vestem-se de forma diferente e só aqui se vende este género de roupa mais colorida que usam. Os trajes deles são tão coloridos e vivos que me apaixonei. A partir desta visita fiquei a saber como distinguir os Karen do resto dos habitantes do Myanmar.

Além da sua cultura própria, Hpa-An tem muitas coisas para ver e cenários magníficos para visitar. Passei lá 4 dias mas conseguia passar bem mais. Hpa-An distingue-se pelas várias montanhas de calcário que se vão erguendo ocasionalmente por entre campos de arroz e casas. Essas montanhas calcárias escondem inúmeras cavernas, e é essa a principal atracão de Ha-An.

Cavernas não faltam para ver por aqui. Cavernas com formações rochosas lindas apoderadas por estátuas budistas, mas ainda assim um refúgio para a vida selvagem. Refiro-me aos morcegos. Algumas das cavernas de Hpa-An albergam quantidades gigantescas de morcegos. Consegue-se ouvir o frenesim dentro da caverna. Um som tão alto que nem imagino o número de animais que estarão mesmo acima da minha cabeça. O cheiro, esse também não é nada agradável. Existe inclusive uma caverna em Hpa-An que fez dos morcegos atracão turística.

Todos os dias, após o pôr-do-sol, milhões de morcegos saem em debandada para uma noite de caça. Saem todos ao mesmo tempo formando uma mancha negra no céu visível de bem longe. Como uma cena da BBC, assim que os morcegos começam a sair, lá estão as águias para os apanhar. Ao som de uns tambores que os locais tocam à entrada da caverna, os morcegos voam e desenham uma linha no céu. Mal saem, são atacados por várias águias que já estavam a sobrevoar o local há cerca de meia hora esperando pelo seu banquete. Foi uma cena linda se de ver, impressionante e que nunca tinha observado. Assim que eles abandonam a caverna por um pequeno buraco, um cheiro nauseabundo invade o sítio.

Conduzir a minha mota por entre arrozais verdejantes para chegar a estas cavernas foi fácil, por isso visitei muitas. Mas também me meti por caminhos de tal maneira maus que sinto que poderia ter explorado mais coisas, tal foi o tempo que demorou a percorrê-los.

Todas as cavernas são diferentes, mas existem umas mais incríveis que outras. Uma delas quase me fez sentir em cenário de filme pois entrei com uma paisagem e, assim que a caverna acabou, avistei outra diferente, tal e qual um livro de aventuras em que depois da escuridão se entra no mundo dos dinossauros. Depois de atravessar a caverna deparei-me com um cenário alagado e planícies sem fim. Ocasionalmente, lá passam uns grupos de várias dezenas de cegonhas bem grandes que tornam o local ainda mais encantador. De mencionar que todos os sons ao redor ajudam muito a esta sensação de que se acabou de entrar num mundo perdido.

Uma das coisas mais difíceis que tive de fazer foi subir o monte Zwegabin, o mais alto da área. Este monte levou-me quase duas horas a subir. São 3600 degraus até chegar ao topo. Nunca tinha subido tanta escada na minha vida. Dizem que subir o monte para ver o nascer do sol é muito bonito, e foi isso que tentei fazer. Tentei, porque quando lá cheguei ao topo já o sol tinha nascido.

créditos: While You Stay Home

Comecei a subir o monte pelas 5.30 da manhã completamente sozinha e no escuro e só alcancei o topo e o templo que lá se encontra depois das 7 da manhã. Foi uma subida interminável e dura, mas ainda bem que o fiz pela fresca porque depois o calor tornou-se abrasador na descida. À hora a que comecei a subida só vi mais duas pessoas nestas escadas. Eram dois jovens birmaneses e deixavam um rasto de suor para trás. Carregavam às costas uma cesta com comida e bebidas. Uma cesta bem grande que suportavam com a cabeça. Se eu já estava a morrer e ia sem peso quase nenhum, nem imagino estas pessoas que têm de fazer esta jornada todos os dias. Não há outro meio de fazer chegar comida e bebida às pessoas e monges que vivem no topo, a não ser subir as escadas com elas às costas. Há uns anos, era possível dormir no mosteiro que se encontra no topo, mas isso deixou de ser possível depois de um estrangeiro ter cometido suicídio do topo da montanha. Teria sido uma experiência incrível dormir lá com os monges…

Após chegar ao topo só queria sentar, beber e comer, mas nem isso pude fazer. Existia um grupo de macacos bem agressivos que vive no topo, por isso descanso foi coisa que não tive até se irem embora. As vistas do topo são magníficas e subir o Monte Zwegabin valeu muito a pena.

Hpa-An é mesmo um sítio incrível. Recomendo vivamente uma visita!

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