Nas ruas de Dakar contam-se pelos dedos as pessoas que usam máscaras, nos mercados e até mesmo em alguns locais fechados. Falamos de centenas de pessoas, por vezes no mesmo espaço pequeno. Podemos dizer se não há testes, não há casos.

Num país/continente que vive cada dia, o que se ganha no dia é gasto para alimentação, como se poderá preocupar com um vírus como o da COVID-19? Se não morrem da doença, morrem da fome.

Aqui há demasiadas preocupações e, acreditem, o vírus não é uma delas. Após questionar várias pessoas, a resposta era a mesma "Jah ces’t grand"*. Ele protege-nos.

Comigo, não se preocupem, em Dakar uso máscara nas ruas, até porque, sendo a segunda cidade mais poluída do mundo, dá jeito.

Hoje vou falar-vos de uma paragem obrigatória em Dakar, que se chama Ilha de Gorée, considerada Património Mundial da Unesco. Foi entre os séculos 15 e 19 dos maiores centros de comércio de escravos do continente, a partir de uma feitoria fundada pelos portugueses.

Dali partiam rumo ao continente americano escravos de toda a África Oeste. Na casa dos escravos aconteciam horrores, humanos maltratados, mortos e em condições deploráveis. Visitar a Ilha de Gorée foi recordar e homenagear todos os milhões de vida perdidas na mão dos colonizadores.

E numa ilha que tem tanta maldade porta como é possível nos seus arredores encontrar uma réstia de esperança? Através das cores dos edifícios, das flores e dos sorrisos das vendedoras. A apenas 20 minutos de barco de Dakar, aqui encontramos um pedaço de paz.

E Dakar, perguntam vocês?

Não é a cidade apaixonante que vocês gostariam de visitar, não vou mentir, é uma metrópole africana e por isso acho que não preciso de dizer muito mais.

Tem os seus segredos escondidos e a sua essência que escapa aos olhos de muitos, pode ser desgastante e frustrante como pode ser um abre olhos para o mundo, para as desigualdades e, acima de tudo, um teste pessoal.

Digamos este será o ponto de partida, a rampa de lançamento para a nossa viagem: aperta o cinto, põe a máscara e vem à minha boleia.

Agora vou apanhar o autocarro até Saint Louis, esperam-me longas horas de viagem.

Até breve!

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Para embarcares para o ano nesta viagem comigo sabe tudo aqui.

 *Deus é grande