A apenas 44 quilómetros de distância de Taiti, a viagem de avião faz-se em somente oito minutos. Penso para comigo que tal proximidade deveria proibir a circulação aérea entre estas duas ilhas, tão prejudicial a nível ambiental. Tínhamos levantado cedo nessa manhã para fazer o mesmo percurso de ferry, por apenas meia hora e para realizar o transbordo do carro. A obrigatoriedade inerente ao “passe aéreo” adquirido (e que nos permite viajar por entre várias ilhas), obriga-nos, contudo, a voltar e a apanhar este voo completamente evitável.

À semelhança de Taiti, Moorea recebe-me nublada, ou não fosse esta a época das chuvas. As nuvens acumulam-se junto aos picos, deixando o sol rasgar o céu de tempos em tempos.

Pegamos no carro e seguimos caminho - esta será a forma mais económica de circular pela ilha, uma vez que o aluguer aqui poderia ter um custo até três vezes superior. Por entre estradas sinuosas, baías lindíssimas abrem-se por entre cada curva. Serão certamente lugares a voltar após deixar as mochilas, tratar do alojamento e São Pedro começar a colaborar.

O segundo dia em Moorea descortina alguns raios de sol, ou talvez a nossa vontade de aproveitar fosse tão grande que não olhámos a cuidados: estava (aparentmente) um óptimo dia para um trilho!

Ténis nos pés, máquina fotográfica em punho, avanço floresta dentro num caminho bem delineado por entre enormes raízes, árvores frondosas e grandes maciços de granito, por momentos parecendo que me embrenho em Sintra, não fossem os calorosos 30 graus e a humidade evidente.

O trilho prossegue por mais de uma hora até se começar a ouvir, ao longe, a chuva que começa a cair como um comboio que circula a grande velocidade. As copas das árvores parecem densas o suficiente para proteger da mais atrevida das gotas de água, e a confiança redobrada não demora muito até me pregar uma rasteira: a chuva intensifica-se, obrigando a procurar um abrigo por entre arbustos e grandes fetos. O cabelo começa a ficar húmido, depois a testa, e rapidamente se expande a todo o corpo.

Sem saber a que distância estamos do cume (e já antevendo que de qualquer das formas a visibilidade seria provavelmente nula), optamos por regressar, consumidos pela “nabice” tão amadora de ter decidido fazer um trilho sem ter antes verificado as condições climatéricas.

A terra (até ali apenas húmida) encontra-se agora lamacenta e escorregadia, enquanto que as pequenas poças se alinham e se tornam rapidamente em riachos potentes, com enormes correntes de água que descem a montanha. Avançamos apressadamente por entre a chuva que cai sem cessar, sem dó ou piedade, importando-nos apenas com o material electrónico que trazemos dentro da mochila não impermeável. Estou completamente encharcada, e os ténis (estupidamente) brancos ora se enterram na lama, ora voltam à sua cor original assim que tiro o pé de mais uma poça. Aceitar a inevitabilidade de tudo o que se está a passar não só facilitou como até tornou divertido o caminho de regresso.

Já passa das 16h quando abrimos finalmente a porta do alojamento, um estúdio em estilo de apart-hotel. O sol entra pela varanda, num tom desafiador. Dirigimo-nos para a praia ao final da tarde, dispostos a tentar tirar o melhor proveito do resto do dia. O céu limpa, deixando apenas pequenos conglomerados de nuvens aqui e ali. As cores mudam rapidamente entre o azul, o dourado, o laranja e, por fim, o rosa. As pessoas juntam-se no pontão, observando o final do dia num dos locais mais bonitos em que já vi tal acontecer - e aí tive a certeza que São Pedro se estava a redimir.

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