
Quando se fala em Chipre, provavelmente, o primeiro pensamento que vem à cabeça de muitas pessoas são as praias de águas azuis-turquesa, porém a terceira maior ilha do Mediterrâneo tem muito mais para oferecer.
Além das praias de sonho, a herança cultural milenar que conjuga legados deixados por vários povos que por ali passaram e a situação geopolítica que dividiu a ilha em dois territórios (República do Chipre e Chipre do Norte) fazem deste país um destino singular para quem procura aliar praias, cultura, história e tradição na mesma viagem. Para não falar da gastronomia, mas já lá vamos.
A primeira paragem deste roteiro por um Chipre mais tradicional é na aldeia de Fikardou. Aninhada nos Montes Troodos, uma das cadeias montanhosas da ilha, Fikardou permanece em suspenso entre as casas tradicionais de pedra que remetem à Idade Média. Explorar as suas vielas é como viajar num tempo que já não existe, enquanto se escuta o silêncio das montanhas.


Numa das antigas casas, há um museu rural que nos transporta para a época em que se vivia do duro trabalho agrícola. É possível ver o mobiliário, as ferramentas e as grandes ânforas onde se armazenavam grãos, vinhos e azeite. Atualmente, a aldeia está quase vazia de habitantes e é mais dinamizada pelo turismo.
O restaurante Yiannakos, localizado na entrada da aldeia, é o lugar ideal para experimentar a gastronomia da ilha que conta com influências mediterrâneas, gregas e turcas, onde não pode faltar à mesa azeitonas, tomate, queijo halloumi e o tradicional meze, uma variedade de petiscos, entre carne, marisco e vegetais. Outra opção de paragem gastronómica é o restaurante Marias, onde recomendamos pedir o meze e surpreender-se com a variedade de pratos que chegam à mesa.
Nesta rota pelas montanhas Troodos, cujo ponto mais alto, o Monte Olimpo, tem 1952 metros de altitude e uma estância de esqui, há ainda património religioso para conhecer, entre as várias igrejas e mosteiros que guardam belos exemplares de arte sacra bizantina e ortodoxa.
A contrastar com a simplicidade de Fikardou, a aldeia de Pano Lefkara recebe-nos com imponência, entre casas de pedra branca — em abundância na região — e muita vida pelas ruas. Há cafés, lojas de souvernirs, hotéis e ateliers de artesãos que contribuem para o ambiente pitoresco da aldeia, eleita pela Organização Mundial do Turismo, em 2021, como uma das melhores aldeias do mundo para turismo sustentável.

Dizem que Lefkara se localiza no coração de Chipre, pois está a 50 quilómetros de distância da capital Nicosia, a 35 quilómetros de Larnaca e a 55 quilómetros de Limassol, as três principais cidades do país. A aldeia é um livro aberto dos diferentes povos que ocuparam a ilha ao longo dos séculos — franceses, venezianos, turcos e ingleses.
Basta pesquisar no Instagram por Lefkara para perceber que a localidade é um sucesso nas redes sociais e um passeio pelas ruas ladeadas de varandas e casas floridas confirma a fotogenia do lugar, havendo, inclusive, certos locais onde se pode formar fila para tirar "aquela" fotografia.

Contudo, é no bordado que Lefkara conta a sua história mais antiga de quando, segundo a lenda, recebeu, no século XV, a visita de Leonardo da Vinci que levou uma peça de bordado para doar à Catedral de Milão.
Foi durante a ocupação veneziana que a fama do bordado cresceu, mas, hoje em dia, as gerações mais novas já não se interessam em aprender a desenhar delicados padrões geométricos sobre o linho, tal como foi ensinado, no século XV, às mulheres da aldeia pelas nobres venezianas que começaram a viver em Lefkara.
"Antes, tínhamos cerca de 100 pessoas a trabalhar para nós, agora temos menos de 20", conta Toula Rouvis, enquanto tece uma peça à porta da sua loja no centro de Lefkara. "Uma peça deste tamanho pode demorar até um mês a fazer", explica.
Além do bordado, o negócio familiar também vende peças em prata, onde se destaca a técnica da filigrana, bem conhecida dos portugueses. De facto, se a arte da prata consegue adaptar-se aos gostos atuais, o mesmo não se pode dizer do bordado que é algo mais datado.

Se, há uns tempos, a presença de mulheres de bordado entre as mãos à porta das casas era uma das imagens de marca de Lefkara, hoje em dia, são os gatos que repousam nas soleiras quase indiferentes à passagem dos muitos turistas que visitam a aldeia.

O SAPO Viagens visitou Chipre a convite da TUI Care Foundation
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