
A chegada dos filhos não travou o sonho de conhecer o mundo de Ângelo da Silva e Susana Ribeiro que, com muito planeamento, concluíram uma volta ao mundo durante meio ano com os filhos de cinco e dois anos, Luísa e Francisco.
Através do canal de Youtube Verde Mundo é possível seguir toda a aventura que começou ainda no ano passado no Egito e que, neste momento, já concluída, continua a ser contada através da publicação de novos vídeos.
Fomos saber mais sobre esta viagem em que cada destino escondia um tesouro que deveria ser descoberto pelas crianças.
Como surgiu a ideia para fazer esta viagem?
Quem nunca sonhou em dar a volta ao mundo? Temos em comum o gosto por viagens, fomos fazendo algumas enquanto solteiros e mesmo com a chegada dos filhos sempre que havia possibilidade, aproveitávamos para viajar. Recordo que na época da COVID-19, comprámos uma autocaravana e fomos até à Grécia, tinha a nossa filha um ano de idade. Esta viagem sempre foi um desejo de ambos que teria de ser realizado antes da Luísa ir para o ensino obrigatório, então este foi o timing.
Como foi o planeamento do roteiro?
Começamos a planear a viagem seis meses antes desta começar, primeiro fizemos uma lista de países/locais que gostaríamos de visitar, depois fizemos o roteiro consoante as estações do ano nos locais, fizemos também uma pesquisa relativamente ao custo das deslocações, por fim, começamos a reservar tudo, de forma que no dia 1 de novembro (data de início da viagem) tínhamos praticamente tudo planeado e reservado para os próximos seis meses. Era um risco que corríamos, mas com duas crianças pequenas achamos melhor assim do que ir no improviso. Felizmente, correu tudo conforme planeado.

Como decorreu esta "caça ao tesouro" durante a viagem?
Lembro-me de um programa que passava na SIC onde a Catarina Furtado corria o país em busca de um tesouro, inspirado nesse programa, surgiu a ideia de fazer algo parecido com os miúdos em cada país por onde passássemos. Seria uma forma divertida de explorar os locais e criar memórias. Todas a semanas publicávamos um episódio no nosso canal do Youtube, onde os nossos amigos e familiares conseguiam acompanhar um pouco da nossa viagem.
Claro que isto foi feito de uma forma muito simples e amadora. Basicamente, pegávamos em alguns papéis ou mapas e quando chegávamos a um local importante escondíamos estes de forma a eles os procurarem, como eles não sabem ler, nós dizíamos que aquilo era uma pista para outro local, no final, escondíamos uma medalha (porta-chaves) que eles tinham de encontrar.
Como foi logística de viajar com crianças?
Não vamos mentir e dizer que é fácil, claro que não, é necessário estar muita coisa em sintonia. Podemos começar por falar nas mochilas, viajámos apenas com quatro mochilas onde foi necessário ter roupa de verão para os países mais quentes e roupa de inverno para os países mais frios e para haver esta mudança basta apenas um voo do Japão para as Filipinas.
A nível de alimentação não tivemos grandes problemas, felizmente os nossos filhos são bons garfos e comem de tudo. As nossas viagens foram curtas entre países, o que fez com que não houvesse muita mudança de horários de forma a não alterar os sonos. Além das mochilas, levámos também dois carrinhos de criança que foram uma excelente ajuda tanto para nos movermos nas cidades como para o Francisco dormir a sesta.

Quantos países visitaram?
Nós passamos por 30 países, porém, quatro deles foram numa pequena escala de cruzeiro, por exemplo, não posso dizer que conheço Cabo Verde, se só estive oito horas na ilha de São Vicente.
Passaram por alguma peripécia ou susto?
O nosso maior susto foi logo no primeiro dia, ainda no aeroporto Francisco Sá Carneiro, a nossa filha guardou o passaporte dela na sua bolsinha, sem que ninguém se tivesse apercebido, quando chegamos a Madrid para fazer a ligação para o Cairo, reparámos que faltava um passaporte e ela também não disse nada, depois de procurar por todo o lado pensávamos que o tínhamos perdido no avião. Já estávamos quase a desistir da viagem até que a Susana resolveu verificar na bolsa dela e lá o encontrou. Esse acontecimento serviu logo de alerta para o resto da viagem.

Destinos que mais gostaram ou os mais marcantes?
A nossa filha gostou muito do que tem a "lua na bandeira" (Maldivas), tivemos cinco dias numa pequena ilha onde adoramos a simplicidade daquele povo, a vida passa devagar naquele local.
Um país que a marcou muito foi o Egito, pois via crianças da mesma idade dela a mendigar nas ruas, fazia-nos perguntas sobre isso, tentávamos explicar que nem todas as crianças nascem com a mesma sorte neste mundo e que, às vezes, reclamamos porque a comida não é tão boa quando há crianças que nem comida têm.
Também gostamos muito da forma civilizada que os sul-coreanos vivem, lá há imenso respeito pelo espaço do outro, nos transportes públicos é proibido fazer barulho de forma a não incomodar os restantes passageiros, por exemplo na capital Seul, que é uma das mais populosas do mundo, os níveis de ruído são dos mais baixos do mundo
Dos restantes países, é interessante termos passado por várias culturas e fisionomias bastante distintas como Sri Lanka, China ou Peru.

Quais são as maiores aprendizagens para as crianças numa viagem como esta?
Acho que a maior aprendizagem é poder ver que existem várias diferenças culturais e formas de estar no mundo. Também é bom para eles darem valor às pequenas coisas, por exemplo, no Natal perguntámos o que eles queriam receber, mas não poderia ser nada muito volumoso pois o espaço das mochilas é bastante limitado, a Luísa pediu um corte de cabelo e o Francisco, na sua inocência, pediu um gelado azul. Achamos que o facto de estarem longe das influências publicitárias e escolares faz com que sejam menos consumistas.
Para nós, pais, foi enriquecedor fazer esta viagem com eles e aproveitar a infância de uma forma bem intensa e gratificante.

Como foi a reação das crianças com o fim da viagem?
Principalmente, a Luísa estava com saudades de casa e de voltar para a escola, foi uma experiência fantástica e bastante enriquecedora, mas eles também necessitam das rotinas deles, num sentido oposto, para mim (Ângelo), ainda está a custar voltar à realidade.
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