Por Fábio Inácio, líder de viagens The Wanderlust e autor do blog Walking Around

Desde que comecei a pensar em viajar, que o Irão fazia parte do meu imaginário! Muito por culpa das “asneiras” que lia em notícias e comentários, tanto na imprensa, como nas redes sociais. Entre eles estavam, e continuam a estar, tesouros como: “No Irão são todos terroristas!”; “São fanáticos religiosos.”; “Os muçulmanos são perigosos".

Eu não sei mais do que ninguém, mas acho triste criticar uma religião inteira ou, falando especificamente do Irão, um país inteiro, por causa de meia dúzia de pessoas que realmente fazem o mal, ou por causa de centenas de notícias parciais e sem fundamento.

Por estes motivos, e também por gostar muito de conhecer locais que ainda estão fora dos roteiros habituais dos turistas, decidi avançar sem medo, sem nenhuma expectativa e, para ser sincero, a saber muito pouco do país. As minhas pesquisas sobre o Irão foram perto de zero, sabia só algumas coisas sobre a Antiga Pérsia.

Chego de madrugada e de táxi vou até ao meu alojamento. A primeira coisa que o motorista me diz é que o povo Iraniano não é como os ocidentais pensam, “Nós não somos terroristas.”. Repondo-lhe dizendo que sei que não são e acrescento que nem todos pensam dessa forma. Não se vai embora até garantir que estou bem entregue!

O Irão na primeira pessoa
créditos: Fábio Inácio

Nos primeiros dias, enquanto caminho pelas ruas de Teerão, sou atacado por todos os lados. Aqueles que sabem inglês vêm falar comigo, querem mostrar-me o que de bom tem o país, levam-me a restaurantes, galerias de arte, monumentos históricos e até para suas casas.

De Teerão vou até uma pequena vila no Curdistão Iraniano, uma viagem longa de autocarro. A meio da noite, paramos para comer algo e antes de conseguir chegar ao balcão, já alguém tinha comprado comida para mim. Insisti uma, duas, três vezes, como de resto mandam as regras iranianas, o tão famoso Taarof*, mas eles continuaram a insistir e acabei por não pagar nada. Quando chego à estação de autocarro entro num táxi para a vila que quero visitar, uma viagem que se faria em menos de uma hora, demora o dobro do tempo. O taxista pára em todas as lojas e pede para eu sair. É com alegria que me leva ao padeiro, a lojas de amigos, a oficinas, a cafés, a todo o lado.

Fico três dias na pequena vila constituída por casas de pedra, onde o grande meio de sobrevivência é o gado e os viveiros de peixe. Fui acolhido por uma família que me dá 3 refeições diárias e que me mete a dormir na casa de um casal amigo onde ninguém fala inglês. Sinceramente, também não foi preciso, tivemos conversas de horas só com sorrisos.

O Irão na primeira pessoa
Fábio Inácio com a família que o acolheu no Curdistão Iraniano créditos: Fábio Inácio

Ao segundo dia, sabendo que eu estava quase a ir embora, todos me quiseram levar para suas casas, entrava numa casa, bebia um chá ou dois, comia qualquer coisa e já tinha outra família à espera na rua. Foram vinte e três chás só numa tarde!

Uns dias depois e com outras paragens pelo meio chego a Isfahan, das cidades mais bonitas que já visitei pelo mundo, tornou-se uma das minhas favoritas desde então. A praça Naqsh-e Jahan é incrível, com mesquitas, bazar, palácio, e mais, a emblemática ponte Si-o-Se Pol. De noite esta praça tem uma energia tão boa, com pessoas a cantar e dançar, assim como toda a margem do rio Zayandeh ao pôr-do-sol. Sempre acompanhado por “novos amigos iranianos” explorei o que de melhor a cidade tem e oferece.

Esta viagem terminou um pouco mais a sul, em Shiraz. Chego ao aeroporto ainda de madrugada, o meu próximo destino era a Índia. Fico meio perdido pois está tudo desligado, não vejo funcionários, nem horários de nada. Na zona de espera, uma única pessoa. Vou ter com o rapaz e pergunto se ele sabe onde posso ver as informações dos voos, ele responde que também não sabe, mas que procura o mesmo. Continuamos a nossa conversa até que ele me pergunta de onde sou. Respondo que sou de Portugal e ele começa a sorrir e diz: “Qual a probabilidade de isto acontecer?”. Sim, ele também era português e, como eu, estava de partida para a Índia. Partilhávamos a mesma opinião sobre o Irão, um país lindo, mas onde isso se torna quase secundário, porque as pessoas, essas sim, fizeram a nossa viagem!

Fiquei completamente apaixonado por este país, por estas pessoas que me deram tanto sem sequer aceitar algo em troca. No mundo em que vivemos hoje em dia é cada vez mais raro. É óbvio que também conheci pessoas que me davam à espera de algo em troca, mas aqui voltamos ao início, à história de serem todos extremistas, terroristas, etc. São poucos, tão poucos que é uma injustiça enorme marcar um povo inteiro por uma minoria tão insignificante. Não gosto de fazer comparações, mas a realidade é que por onde já andei, nunca encontrei povo tão acolhedor como este, nunca mesmo!

O Irão na primeira pessoa
Holy Shrine em Kashan créditos: Fábio Inácio

P.S. – Mais tarde voltei ao Irão e não fiquei desiludido, foi mais do mesmo, maravilhoso!

*Regra geral os Iranianos oferecem tudo, seja no restaurante, no táxi, em qualquer lado eles dizem que pagam. Fazem isto por educação, mas grande parte das vezes esperam que paguemos a nossa despesa, por isso temos de insistir 3 vezes. Se depois disso continuarem a dizer que pagam é porque querem mesmo oferecer.

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