Imediatamente após o desembarque, conduzimos vagarosamente até ao nosso refúgio naqueles dias, desfrutando pelo caminho de uma paisagem colorida pelos campos de lavanda, lustrada pelos olivais e prazenteada pelas suas vinhas.

Neste pedaço de terra rodeado de mar entregamo-nos pela primeira vez a uma experiência que desejávamos há muito, o glamping. Um tipo de alojamento em que se pode acampar, aliando as comodidades e a elegância de um espaço sofisticado aos prazeres do convívio simples com a natureza.

Confesso terem sido dias absolutamente maravilhosos, em que acordávamos com o nascer do sol e despertávamos com um banho de mar, seguido de um demorado e reforçado pequeno-almoço. Seguíamos posteriormente por entre simples e pequenos trilhos de terra batida ou de pedrinhas, que nos faziam descobrir recantos e praias, que então nos devolviam as águas salgadas e cristalinas do Adriático até o sol partir… Os dias terminavam com a preparação de jantares cozinhados com maravilhosos produtos locais e na companhia de outros poucos residentes de diferentes pontos do planeta, como Reino Unido, Hungria, Itália e Bélgica…

Nesta experiência de glamping senti-me absolutamente conectada com a Mãe Natureza, em que me esqueci de toda a outra realidade que porventura valerá mais (ainda que erradamente) para a definição de uma eventual biografia minha.

Houve momentos em que apenas me deixei flutuar e, inexplicavelmente, me sentia dentro do útero da Mãe Terra, pressentindo-me a redesenhar um tempo que há muito esqueci. Contudo, à tona da água voltei a um espaço escuro que me era estranhamente confortável e desafiador, e do qual nutria peculiar nostalgia. Tendem as mulheres a partilhar saudade do tempo em que carregam os filhos dentro de si, todavia não é desse tipo de sentimento a que me refiro. Faço alusão a uma lembrança de mim própria, imperfeita e em construção, enquanto cria, que me parecia ser inequivocamente agradável e venturosa, mas que acabava interrompida pela força da luz do sol nos meus olhos, que me obrigava a sair de um líquido morno e seguro para um mar de imenso de dúvidas, desejos e sonhos, como se de um parto rápido e sem dor se tratasse.

Conquanto a serenidade regressava quando despertava desta espécie de transe e acabava por avistar o Viajante Ilustrador e o X, que tão pacientemente tentava agarrar a água, como se de uma sede insaciável sofresse. Respeito muito as crianças. Nelas revejo um sentido de gratidão e de curiosidade pela vida, que nós enquanto adultos tantas vezes falhamos. Em verdade, o toque demorado e o olhar furtivo do X para os elementos da Mãe Natureza, fizeram-me pensar no desprendimento e na compaixão imensa das crianças, quando nada pedem à natureza, dedicando apenas a ocasião para a escutar e a acalentar, enquanto que nós, seres crescidos, e alegadamente maduros, tantas vezes (até inconscientemente) insistimos em reclamar.

Existem locais em que a natureza nos leva a que sejamos novamente paridos, independentemente da nossa vontade. E existem pessoas que nos fazem reconsiderar o berço do amor e da cura...

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