Foto: Irkutsk, Alexei Kolganov | Dreamstime.com

Um clássico da literatura

O livro de ficção Michel Strogoff foi escrito por Júlio Verne e publicado em 1876. Ele descreve as façanhas de um mensageiro imperial russo para o czar Alexandre II, personagem histórica que reinou entre 1855 e 1881. A história é desencadeada a pretexto das ações de um príncipe tártaro, Feofar Khan, que incitou uma rebelião com o objetivo de tornar independente o extremo-oriental do resto do Império Russo. Os revoltosos cortaram os cabos de telégrafo e sitiaram Irkutsk, onde o governador local, irmão do czar, resistia. É então que Strogoff é enviado para Irkutsk onde devia informar o governador de que Ivan Ogareff era um traidor.

Fazer a viagem agora

Hoje em dia é possível fazer todo o percurso de Moscovo a Irkutsk sem sair do comboio. É claro que também o podemos fazer de carro, embora isso se afigure uma tarefa que pode demorar cerca de 20 dias e exija uma logística complexa para as estadias. Por outro lado, de comboio, a viagem direta dura quatro dias.

Os valores da viagem variam dependendo muito do nível de conforto que escolhe (há 3 classes de compartimentos) e se faz alguma paragem pelo caminho. O comboio pára em várias estações no percurso por 15 ou 20 minutos, o que não permite conhecer nada. Na nossa opinião, um pacote razoável deve incluir: um bilhete pelo menos de 2.ª classe, uma paragem de uma noite pelo caminho (talvez Novosibirsk seja a melhor opção) e duas noites em Irkutsk, para fazer o passeio absolutamente obrigatório ao lago Baikal.

Além disso, esta viagem pode ser o prelúdio de algo maior, já que em Irkutsk, se quisermos ir mais além, podemos continuar até Vladivostok, tendo a experiência Transiberiana ou, em vez disso, apanhar o Transmongoliano que termina em Pequim.

Lago Baikal
Lago Baikal créditos: Viktor Nikitin | Dreamstime.com

Uma missão difícil

Júlio Verne gostava de colocar as suas personagens perante viagens difíceis. Strogoff, para cumprir a sua missão, tinha de percorrer cerca de 5 500 km. Mesmo assim era um itinerário bem mais curto e simples do que o de Philleas Fogg, aquele cavalheiro inglês que apostou fazer uma Volta ao Mundo em 80 dias. De facto, Strogoff tinha “apenas” de apanhar o comboio em Moscovo com destino a Nizhny Novgorod e, depois, seguir até Irkutsk por estrada ou por barco, conforme a circunstância.

De Moscovo a Nizhny Novgorod

Verne escreveu que “as estações ferroviárias na Rússia servem como um ponto de encontro tanto para os que saem quanto para os que ficam”, uma espécie de clubes sociais. Strogoff chegou à estação na manhã de 16 de julho; trazia uma mala de viagem presa aos ombros e trajava simples: colete justo ao corpo, cinta de camponês e botas apertadas. O bilhete iria levá-lo a Nizhny Novgorod.

No caminho, como hoje, o transiberiano parou na estação de Vladimir. Entre os novos passageiros, uma jovem de aparência eslava – Nádia – chamou a atenção do mensageiro imperial. Ela acabaria por desempenhar um papel fundamental na história.

Michel Strogoff
Michel Strogoff créditos: Domínio Público

O resto da viagem decorreu com algumas surpresas, sendo a principal delas um choque violento em um ponto em que a linha fez uma curva rápida. Felizmente, tudo não passou de um grande susto e os passageiros chegaram em segurança a Nizhny Novgorod. A cidade estava mergulhada numa grande animação por causa de uma feira. Por causa disso, a cidade, que ordinariamente “tem apenas trinta a trinta e cinco mil habitantes, agora tinha dez vezes esse número.” Lá, Strogoff apanhou o Cáucaso, um vapor do Volga.

Perigos à espreita entre Nizhny Novgorod e Irkutsk

O vapor deixou-o em Perm e depois ele seguiu de carruagem por uma estrada, que é, em boa medida, paralela à atual linha férrea. Hoje, de comboio, podemos evitar a terrível tempestade que Strogoff sofreu entre Perm e Ekaterinburg. E podemos ver, do conforto de um compartimento fechado, o começo da estepe siberiana que surge entre Tyumen e Omsk, "esse vasto deserto ervoso, em cuja circunferência a terra e o céu se confundem numa curva que parece a compasso”, qual bálsamo para os olhos e para a alma.

Perto de Omsk, Strogoff foi capturado e levado pelos tártaros. Nessa viagem forçada, ele provavelmente passou por Novosibirsk, mas depois desviou-se da rota para o norte, para Tomsk. Aí, ele foi torturado ao ponto de o julgarem cego. Por causa disso, Strogoff foi libertado, de maneira que tanto ele como Nádia puderam retomar a viagem para Irkutsk. Eles foram para Krasnoyarsk e depois passaram por Nizgneudinsk.

Final feliz em Irkustk

No dia 2 de outubro, pelas 6 da tarde, Michel Strogoff e Nádia depararam-se com um imenso lençol de água que se desenrolava aos seus pés: o lago Baical. Esse “imenso mar de água doce, alimentado por mais de trezentas ribeiras, fica emoldurado numa admirável cinta de montanhas vulcânicas.” Durante o inverno siberiano, o lago congela, transformando-se numa placa de gelo espessa.

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Strogoff lá chegou a Irkutsk, uma cidade que Verne descreveu como “meio bizantina, meio chinesa” povoada por habitantes “muito civilizados”. Aí, Strogoff pôde cumprir a sua missão: expôs o traidor Ogareff, acelerou a queda da insurreição tártara e casou-se com Nádia!

O final da história não poderia ter sido melhor. Da mesma forma, hoje em dia, quem faz a viagem costuma trazer boas lembranças. Muitos, especialmente os estrangeiros, passam momentos inesquecíveis e definidores. O ritmo, os sons e os rituais de uma longa jornada de comboio parecem colar-se à pele. E, na mente, ficam imagens daquelas vastas paisagens que rasgam horizontes, puras e irresistíveis.

Você está disposto a fazer essa viagem inesquecível? Se assim for, vá até Moscovo e entre no próximo comboio para Irkutsk...

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