O Bananeiro, Braga

Em Braga, a tradição manda “comer uma banana e beber um banano” nas horas que antecedem a ceia de Natal.

O “Natal do Bananeiro” é um ritual com mais de quarenta anos que teve início com os emigrantes de Braga, que regressavam nesta época do ano para visitar a terra e a família. Assim, no final da tarde do dia 24, reuniam-se na Casa das Bananas da Rua do Souto para beber moscatel e rever os rostos conhecidos. De modo a evitar o desperdício da fruta madura, a casa já tinha o hábito de oferecer banana para acompanhar a bebida.

No entanto, com o passar dos anos, a tradição foi ganhando tantos adeptos que, atualmente, são milhares os bracarenses que se reúnem na Casa das Bananas, ultrapassando os limites do estabelecimento e enchendo a Rua do Souto, para trocarem entre si votos de “boas festas”.

Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
Bananeiro, Braga créditos: Facebook Sporting Clube de Braga
Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
Bananeiro, Braga créditos: Facebook Sporting Clube de Braga

O Menino Mija, Açores

A tradição açoriana que decorre entre o dia de Consoada e o dia de Reis chama-se “O Menino Mija” e é símbolo do património etnográfico do arquipélago.

Em grupo, homens e mulheres, visitam a casa de conhecidos e, ao chegarem nas casas de amigos e familiares, perguntam: “o menino mija?”. Esta é a senha que permite ao grupo entrar e conviver, para degustar doces e licores tradicionais, frequentemente já expostos na mesa.

Muitas vezes, acontece os anfitriões adiantarem o convite e dizerem aos amigos: “hoje o menino mija cá em casa”.

Devido à popularidade da tradição, a fábrica de licores de Eduardo Ferreira criou um licor com o mesmo nome que, durante a época festiva, costuma esgotar rapidamente.

Magusto da Velha, Aldeia Viçosa

Reza a lenda que, no século XVII, uma “velha muito velha e muito rica” cuja identidade permanece desconhecida deixou uma oferenda à Igreja da Vila do Porco, atual Aldeia Viçosa, de 96 alqueires de centeio.

Em contrapartida, numa escritura redigida na época, constam as suas exigências: “tem obrigação de dar na primeira oitava de Natal cinco meios de castanha e cinco alqueires de vinho pela alma de uma velha que deixou noventa e seis alqueires de centeio a esta igreja, impostos na Quinta do Lagar de Azeite, para que com esta castanha e vinho se fizesse no mesmo dia um magusto e todos dele comessem e rezassem na igreja um Padre Nosso pela sua alma.”

Assim, todos os anos a 26 de dezembro, a Junta de Freguesia organiza o Magusto da Velha, de modo a relembrar o ilustre gesto da mulher que deu de comer aos pobres numa época caracterizada por fome, guerras e doenças.

Ao longo da tarde, são comuns os festejos com música, teatro, cortejo, o tradicional Madeiro de Natal e outras iniciativas. De modo a respeitar a vontade da velha, do alto da torre da Igreja Matriz, são atirados 150kg de castanhas e algumas guloseimas para os mais novos, enquanto os sinos tocam freneticamente. Ao mesmo tempo, são distribuídos pelo povo 150 litros de vinho tinto para acompanharem as castanhas. Está o magusto feito e, entre rezas, festejos, castanhas e vinho, cumpre-se a tradição.

Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
Magusto da Velha, Aldeia Viçosa créditos: Facebook Município da Guarda
Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
Magusto da Velha, Aldeia Viçosa créditos: Facebook Município da Guarda

O madeiro de Natal

No interior do país, sobretudo nos distritos de Bragança, Guarda, Castelo Branco e Portalegre, o Natal é marcado pela queima do madeiro, que decorre na noite de dia 24 para a madrugada de dia 25.

Trata-se de um ritual comunitário, realizado tradicionalmente no adro da igreja, onde a população se aquece e convive após a Missa do Galo, que se inicia à meia-noite do dia 25 de dezembro. Geralmente, a fogueira chega a atingir a altura da igreja e fica a arder durante a noite até se apagar por si mesma.

Em algumas localidades do distrito de Castelo Branco, a apanha do madeiro fica sob responsabilidade dos jovens solteiros e/ou dos jovens destacados para serviço militar. No entanto, é comum os homens casados também ajudarem. Na aldeia, a população espera a chegada do madeiro, que é anunciada com o tocar dos sinos. À meia-noite, a Missa do Galo e o acender da fogueira iniciam-se simultaneamente.

Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
O Madeiro de Natal, Penamacor créditos: Município de Penamacor
Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
O Madeiro de Natal, Penamacor créditos: Município de Penamacor

Caretos, Bragança

Os Caretos de Varge são uma tradição inserida nas celebrações da Festa dos Rapazes, que ocorre na aldeia de Varge, na freguesia de Aveleda, no concelho de Bragança, nos dias 24 e 25 de dezembro.

Todos os anos, no início de dezembro, os rapazes solteiros da aldeia juntam-se para elaborarem as loas, – versos em forma de crítica, muitas vezes acompanhados de representações cómicas, sobre os comportamentos e condutas dos moradores da aldeia durante o ano –, que serão apresentadas num colóquio público, no dia 25 de dezembro, depois da tradicional missa de Natal. No entanto, ninguém deve levar a mal o comportamento dos Caretos ou as suas loas, uma vez que estas representam o exorcizar da negatividade do povo e a promessa de fertilidade e abundância.

Após o colóquio, os caretos acompanham os mordomos a todas as casas da aldeia para desejarem boas festas. Entre as visitas, vão espalhando o caos por onde passam: gritam, achocalham as raparigas, atiram feno às pessoas e provocam os animais.

Tradicionalmente, o fato dos Caretos só pode ser envergado por um rapaz solteiro, e é caracterizado pela máscara de nariz saliente, que pode ser de madeira, couro ou metal e um fato colorido com franjas compridas nas cores vermelho, amarelo e verde. À indumentária juntam-se os tradicionais chocalhos.

Estas são as tradições natalícias mais inusitadas da cultura portuguesa.
Os Caretos de Varge, Bragança créditos: Município de Bragança

Pintar e Cantar os Reis, Alenquer

É uma tradição muito ancestral que ocorre na Noite de Reis, de 5 para 6 de janeiro, em Alenquer e consiste em cantar e pintar as paredes das casas com uma simbologia própria.

Um grupo organizado de pintores e cantores – os Reiseiros – andam pelas aldeias a pintar símbolos nas paredes, maioritariamente nas cores vermelho e azul, e a cantar canções, cujas letras têm origem em cancioneiros de 1640, em troca de donativos. Normalmente as contribuições conseguidas são para ordenar uma missa pelas almas e o restante para um almoço para o grupo que cantou, dançou e pintou.

Durante vários séculos, a Igreja Católica empenhou-se em proibir qualquer manifestação popular que incluísse ofertas, de modo a centralizar para si mesma os donativos feitos pelo povo. No entanto, em algumas aldeias da Serra de Montejunto, a tradição Pintar e Cantar os Reis sobreviveu, face à sua localização geográfica e consequente fraca influência da igreja, mas sobretudo pelo esforço dos habitantes da aldeia, que todos os anos cumprem o ritual. Em julho de 2021, este costume foi classificado em Assembleia da República como Património Cultural Imaterial Nacional.

Pintar os Reis
Pintar e Cantar os Reis, Alenquer créditos: Andarilho