Em algumas aldeias percorremos ruas desertas. Vemos apenas casas de granito de um só piso, com poucas janelas e portas de madeira corroídas pelo tempo. Há uma sonolência no desfile das habitações encostadas umas às outras. Como se tivessem adormecido na noite em que os ocupantes foram embora.

 Um dos locais onde encontramos este cenário é em Donfins. António Santos, presidente da Junta de Freguesia de S. Jarmelo de S. Pedro, explica que os poucos recursos da aldeia, como a falta de água e de saneamento, ajudaram na desertificação.

Donfins
créditos: andarilho.pt

“As pessoas queriam alguma comodidade e como não tinham os meios básicos acabaram por se deslocar para outras aldeias ou para as cidades no litoral. Tal como a maior parte desta região do interior. A aldeia foi morrendo aos poucos e, daí, as casas irem-se mantendo.”

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Na altura em que visitei Donfins estavam a instalar a rede de saneamento básico. No entanto, em muitas ruas a arquitetura original das casas, as rendas nas janelas e as portas semicerradas criavam a ilusão de que as pessoas simplesmente foram embora deixando tudo igual à rotina diária. Um museu “in situ” do que era a aldeia há algumas décadas.

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Mas António Santos chama-me a atenção que “há algumas décadas atrás, havia muita gente. As terras estavam todas cultivadas e as casas habitadas. Nas casas que hoje parecem palheiros, naquela altura, vivia gente. Infelizmente, estão todas ao abandono e a maior parte delas com uma grande degradação.”

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As que se veem no traço original não sofreram alterações. Deixaram-nas, as famílias saíram. Ficou tudo como estava, só o tempo lhes deu uso. Por sua vez, as poucas casas habitadas já têm um traço diferente porque têm sido remodeladas.

Donfins
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Um outro sinal de que ainda há algumas pessoas na aldeia é dado pelas pequenas hortas e árvores de fruto. Próxima da estrada está uma cegonha, ou picota, com um balde para retirar a água do poço.

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São vestígios dos trabalhos agrícolas, a base da economia local que tem uma forte ligação à Guarda que fica a pouca distância. “A distância são 17km. É perto. Geralmente, vêm cá pessoas comprar os produtos diretamente aos agricultores. Compram e depois levam.”

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Uma das ruas onde também somos surpreendidos é a da capela, até à rua dos Sapateiros. Deparamos com um volumoso conjunto de penedos. As rochas são maiores do que a maior parte das casas.

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Um dos penedos tem uma fresta no meio e na parte superior está colocado um sino. A armação é metálica, não fosse Donfins terra de ferreiros e um deles, Mateus Miragaia, é o último que produz tesouras de tosquia. A estrutura de ferro apoia-se na rocha e permite a suspensão do sino. A corda do badalo corre quase até ao chão. Só faltam os garotos para tocar o sino e dar as voltas ao povo.

Os confins de Donfins faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.