Durante várias décadas as águas dos Açores foram exploradas pela baleação norte-americana. Recrutavam açorianos e alguns anos depois surgiram unidades industriais para desmancho dos cachalotes e extração de óleo.

Uma delas ficava em Porto Pim, num dos extremos da baía da cidade da Horta. Muitos baleeiros faziam uma pausa no Peter Café Sport e repetiam a tradição de outros marinheiros de deixarem uma recordação.

Foi o ponto de partida para José Azevedo, mais conhecido por Peter, iniciar uma coleção maioritariamente de peças de marfim gravadas ou esculpidas. Há centenas de exemplares no Museu de Scrimshaw no primeiro piso do café, na marginal da Horta.

“Os temas são habitualmente os mesmos. A baleação, a mulher, a viagem, a saudade... são todos temas tristes. Não há nada de romântico à volta do tema de baleação”, diz Duarte Pinto, gerente do Peter Café Sport que nos fez uma visita guiada.

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

Em exposição estão inúmeras peças de Scrimshaw, uma arte que se carateriza por esculpir ou gravar em dentes e ossos de baleia. Os baleeiros adotaram esta arte nas longas viagens no Atlântico Norte, mas nos Açores, como a caça era feita próximo da costa, a maior parte das peças foi feita em terra.

Peter Cafe Sport
José Azevedo é o retratado no lado esquerdo da imagem créditos: andarilho.pt

No museu encontramos ainda trabalhos de alguns dos mais conceituados artistas açorianos. É o caso de Fátima Madruga, “que ainda desenha e vai fazendo uns dentes para nós de vez em quando. Um deles representa a mãe a chorar pela partida do filho que emigra para a América”. Há vários exemplares sobre a emigração açoriana para os EUA.

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

As peças mais valiosas são em marfim e também encontramos exemplares raros. Um exemplo é “um dos maiores dentes do mundo, de um animal muito maior do que os que existem atualmente. Pelos cálculos que foram feitos devia ser de um animal com mais de 150 toneladas, o que é muito acima do normal. É quase o dobro”.

A atividade baleeira em Portugal foi proibida em 1986, no mesmo ano de abertura do museu.

José Azevedo - Peter

O espólio do museu está muito associado ao seu fundador. José Azevedo foi batizado de Peter por um oficial de um barco da marinha britânica. O HMS Lusitania II perdeu a polpa em 1939 e esteve algum tempo na Horta no decorrer da II Guerra Mundial.

Marina da Horta
créditos: andarilho.pt

José Azevedo começa a fazer alguns serviços para esse barco, “ajudar a lavar a roupa do capitão, arranjar morangos frescos porque o capitão gostava muito... e com estas pequenas coisas criou-se uma amizade entre os dois. Esse capitão tinha um filho que tinha morrido durante a guerra e achava José Azevedo era muito parecido com o filho. Devido à amizade entre eles, as parecenças de José Azevedo com o filho do capitão e à dificuldade que o capitão tem em dizer “José Azevedo”, há um dia em que ele pergunta: “posso chamar-te Peter?”. O nome do filho era Peter.”

Marina da Horta
créditos: andarilho.pt

É já com o nome de Peter que se dedica ao apoio náutico e começa a ser conhecido por muitos tripulantes de iates e veleiros que, essencialmente a partir da década de 60, atravessam o Atlântico Norte e aproveitam uma corrente natural que termina junto da cidade da Horta.

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

A referência que se espalhou no universo náutico foi  “quando atravessares o Atlântico e parares na Horta, se precisares de alguma coisa, procura um individuo que se chama Peter, ele vai-te desenrascar.”

Na passagem dos navegadores ficou enraizado o hábito de deixarem uma recordação. “Um dos presentes comuns em todos os barcos é a bandeira da embarcação. Faz parte da tradição fazer a travessia e deixar a bandeira do barco em sinal de boa sorte para o resto da viagem.”

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

José Azevedo faleceu em 2005 e muitos marinheiros continuam a vir aqui deixar a bandeira para manterem a sorte até ao resto da travessia do Atlântico.

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

A sala está repleta de bandeiras e o ambiente é de convívio de vários tripulantes. Dizem que a regra é beber um gin tónico.

A porta do Café Peter Sport dá de frente para a marina onde é hábito estarem centenas de iates parados a aguardar oportunidade para completarem a travessia do Atlântico.

Peter Cafe Sport
créditos: andarilho.pt

Peter Café Sport, o porto de abrigo na travessia do Atlântico faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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