A vista é desafogada a partir da Casa da Vinha, o nosso ponto de partida nesta viagem pelo Torel Quinta da Vacaria. De um lado, as vinhas espraiam-se até ao rio, naquele alinhamento perfeito que só o Douro sabe proporcionar; do outro lado, mais vinhas a perder de vista que ajudam a perceber o tamanho desta propriedade de 60 hectares. As águias-de-bonelli e os milhafres planam sob o rio e o vento trespassa a vinha, de onde nascem as primeiras uvas da época.

Reconhecida pelas vinhas velhas e pela produção de vinhos e azeites de qualidade, a Quinta da Vacaria é uma das mais antigas da região do Douro, havendo registos da sua existência desde 1616. Com uma localização privilegiada em Vilarinho de Freires, no Peso da Régua, entre as margens do Corgo e do Douro, a quinta é o lugar ideal para conhecer melhor a história desta região vinícola Património Mundial da UNESCO.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro A vista da Casa da Vinha. Quinta da Vacaria, Douro créditos: Alice Barcellos

Voltemos, então, à Casa da Vinha, onde Mónia Batista, responsável de enoturismo da Quinta da Vacaria, recebe-nos com uma mesa farta de iguarias durienses, dos irresistíveis queijos aos enchidos, e muitas histórias para contar sobre aquilo que define o Douro: os seus vinhos, a sua gastronomia e as suas gentes.

No topo de um monte, completamente integrada na paisagem, a Casa da Vinha pode ser uma sala de provas, um lugar para um almoço ou jantar em privado e, até, o sítio perfeito para um pedido de casamento, como já foi feito por alguns hóspedes, confidencia-nos Mónia.

A versatilidade é uma das palavras que define o conceito de enoturismo de luxo da quinta que, há um ano, ganhou o selo do Torel Boutiques, grupo hoteleiro que se dedica a criar unidades cinco estrelas que procuram elevar a qualidade através das histórias que contam, “são a porta de entrada para viajantes modernos e curiosos, que procuram algo além de uma chave de hotel”, pode ser lido no site do grupo.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro Almoço e prova de vinhos na Casa da Vinha créditos: Alice Barcellos

No Torel Quinta da Vacaria, os hóspedes procuram “o refúgio”, conta Mónia. Que pode ser de natureza, enoturismo ou bem-estar, e, até mesmo, aliar um pouco de tudo na estadia. Sem esquecer, a gastronomia, uma vez que o hotel conta com dois restaurantes, o 16Legoas, cuja proposta reside na gastronomia da região, e o Schistó, projeto de alta cozinha assinado pelo chef Vítor Matos, que pretende ser um “hino à gastronomia portuguesa”.

Com a rica herança do passado que ainda vive entre as vinhas e entre as antigas barricas de vinho do Porto guardadas na adega, a quinta está a apostar em projetos de olhos postos no futuro, como um museu interativo, onde é possível descobrir a história da quinta, além de poder conhecer toda a produção da Vacaria na loja adjacente.

Anualmente, a quinta produz cerca de 120 mil litros de vinhos tranquilos e 50 mil litros de vinho do Porto. “As produções não são muito grandes porque queremos dignificar as quantidades produzidas”, explica Mónia. E, tal como um bom vinho que vai revelando os seus sabores e aromas por camadas, também o Torel Quinta da Vacaria vai surpreendendo à medida que o conhecemos.

A adega está completamente integrada na paisagem, não mostrando, à primeira vista, os espaços equipados com todos os materiais necessários para o processo de vinificação. Conta com duas salas de prova e lagares para a pisa manual da uva, uma experiência aberta aos hóspedes no ano passado e que foi um verdadeiro sucesso, confirma ao SAPO Viagens Márcio Dias, diretor do Torel Quinta da Vacaria.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro Uma das salas de prova da adega da Quinta da Vacaria créditos: Alice Barcellos

“As pessoas procuram experiências únicas de enoturismo, querem fazer algo que nas outras quintas não se faz”, refere o responsável. A vindima é algo que muitos hóspedes internacionais “não estavam a pensar em fazer numa experiência hoteleira” e, para muitos hóspedes portugueses, “é um reviver de memórias”.

Da prova de vinhos ao fine dining, passando pelo spa

Depois da prova de vinhos, em que pudemos degustar algumas das referências da Quinta da Vacaria, e de um almoço descontraído na Casa da Vinha, nada melhor do que uma caminhada pela propriedade que tem ainda a particularidade de ser cortada pela linha do Douro, o que lhe confere um charme especial. Aliás, pode optar por ir de comboio, a partir do Porto, para o hotel, uma vez que se encontra a menos de 10 minutos de transfer da estação do Peso da Régua.

No exterior, não faltam trilhos entre as vinhas ou junto ao rio, além de recantos que convidam à contemplação, como a horta ou a piscina de borda infinita com vista para o Douro.

Já no interior, a contemplação é outra, começando pelas obras de arte espalhadas pelos espaços comuns do hotel, onde podemos sentarmo-nos confortavelmente a ler um livro, quer seja no sofá junto à entrada principal da casa senhorial do século XVII, ou no bar, já na parte recente do complexo que passou por um processo de reconversão de três anos, com a assinatura do arquiteto Luís Miguel Oliveira.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro Vista do quarto créditos: Alice Barcellos

Claro está que o verdadeiro conforto é encontrado nos 33 quartos que compõem o hotel, todos diferentes entre si, mas seguindo o fio condutor adotado pela design de interiores Joana Astolfi. Aqui o luxo é simples, sem ostentação, as referências ao passado convivem com a contemporaneidade, num equilíbrio onde reside a vontade de desligar do mundo “lá fora” e onde a vista para o Douro é o quadro mais sublime.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro Piscina interior do spa da Quinta da Vacaria créditos: Alice Barcellos

Por falar em desligar, o spa é paragem obrigatória. Inserido num bloco em aço corten contíguo ao edifício principal, o CallaSilent Wellness & Spa distribui-se por cerca 1000 m², tornando-se num dos maiores da região do Douro. Lá, poderá desfrutar da piscina interior aquecida com vista para o rio e as montanhas, além de sauna, duches sensoriais Vichy, hammam, quatro salas de tratamento com vinoterapia e hidroterapia, sala de relaxamento e ginásio.

O capítulo final da nossa experiência no Torel Quinta da Vacaria seria escrito em dez momentos, numa das mesas do restaurante Schistó, onde o fine dining se encontra com a gastronomia portuguesa e o resultado é uma viagem a sabores e memórias de outros tempos, do cozido à portuguesa ao leitão, sem esquecer o contributo da região, como a truta arco-íris (o nosso momento favorito do menu), o lúcio-perca, o folar, além de produtos que vêm diretamente da horta da quinta para a mesa, como o prato vegetariano, em que a beterraba brilhou e encantou.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro O prato com truta arco-íris no menu do restaurante Schistó da Quinta da Vacaria créditos: Alice Barcellos

Apesar de jogar pelo seguro, apostando na gastronomia portuguesa, o Schistó é um projeto arrojado, a começar pelo espaço em que se insere, onde, depois de cruzarmos umas cortinas, como se estivéssemos a subir num palco, somos convidados a assistir à equipa dos chefs Vítor Matos e Vítor Gomes e da sous-chef Carolina Columbano a trabalhar minuciosamente na finalização dos pratos deste menu composto por dez momentos.

Só quando nos sentamos à mesa que ficamos a conhecer o menu, o que confere mais um elemento surpresa a toda a experiência gastronómica, em que a harmonização com vinhos Quinta da Vacaria assenta como uma luva.

Quinta da Vacaria, Douro
Quinta da Vacaria, Douro As antigas bicicletas que transportavam o leite, outrora, também produzido na quinta são, agora, peças de decoração créditos: Alice Barcellos

Numa região em que o enoturismo está em crescimento, são projetos como este que provam que é possível homenagear e respeitar o passado, de olhos postos no futuro, elevando o conceito de luxo que não esquece a hospitalidade e o calor tão característicos da região demarcada de vinhos mais antiga do mundo.

O SAPO Viagens visitou o Torel Quinta da Vacaria a convite do alojamento