
O importante, como salienta António Carreiro, é “por todos os meios manter” o ritual da quarta-feira santa em Alcafozes.
O alecrim já tinha sido recolhido. Estava guardado na sacristia e a quantidade e aroma variam com o prolongamento da época das chuvas.

São meia dúzia de homens que colocam os ramos de alecrim no piso da capela-mor.

Começam pelas laterais e observam atentamente algum recanto que também tem de ser coberto. Fazem o mesmo nos pequenos altares que ladeiam a coxia central. Pouco a pouco o frio da pedra do piso da capela-mor fica ondulado de verde.

O teto de madeira azul e o colorido das várias pinturas ficam esbatidos com o domínio do verde alecrim. Entre vários comentários e indicações procura-se a melhor metodologia – não é fácil – para a retirada das capelas laterais das imagens do Senhor dos Passos e da Senhora das Dores.

São depois colocadas em andores que no dia seguinte irão percorrer as ruas da aldeia na Procissão do Encontro.

A estrutura de Cristo, com a enorme cruz de madeira, é a que exige mais cuidado. Tem de ser bem sólida e preservar a imagem que é antiga.

Ao mesmo tempo, na sacristia, foi confecionada a Parva. A mesa para 11 pessoas já está posta.

A única mulher do grupo ajudou a fazer a comida e este é o momento da confraternização dos irmãos da Misericórdia e outros que se juntaram porque a aldeia tem cada vez menos gente: 200 habitantes. "Depois de prepararmos os andores e o alecrim cobrir a capela-mor, os irmãos juntam-se nesta mesa".

Acrescenta António Carreiro que "o comer, segundo a tradição, é bacalhau à antiga. Tem o nome de punheta de bacalhau. Todos juntos vamos agora comer a chamada 'parva'. O nome vem de muito longe, tem séculos. Não sei o significado, mas não é nada de mal, certamente".

António Catana, investigador e estudioso da Páscoa em Idanha, afirma que "após os Irmãos atapetarem o chão da capela-mor (...) e alindarem os respetivos altares com alecrim e satisfazerem os demais preparativos para as cerimónias do dia seguinte” no final comem, “na sacristia, a parva, palavra que deriva do latim e significa pequena quantidade".

No dia seguinte, quinta-feira santa, a Igreja da Misericórdia é o local de vários rituais pascais. A Ceia dos Doze, a cerimónia de cânticos, seguindo-se o Lava-Pés, a Procissão do Encontro e a leitura dos "Tormentos do Redentor". À meia noite é o Canto dos Martírios e da Senhora das Dores pelas ruas da aldeia.

Alcafozes é muito conhecida na região arraiana por outra festividade. Em agosto, realiza-se a festa em honra de Nossa Senhora do Loreto. A santa é padroeira da Aviação e no dia principal e no dia principal da festividade, numa segunda-feira a tradição é a procissão ser sobrevoada por aviões da Força Aérea e aeronaves do Aeroclube de castelo Branco.

Aqui encontra o conjunto de rituais que marcam "Os Mistérios da Páscoa em Idanha". Um deles ocorre um pouco depois do “comer a parva” em Alcafozes. É numa aldeia próxima, Medelim, onde tem lugar a "procissão do encontro".
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