Bilhete-postal por Carlos Figueiredo

Sete horas da madrugada. A jornada já é tradição familiar, haja chuva, sol, frio ou calor. Ainda o Martim era bebé de colo e percorríamos, em passeio, a floresta da Serra da Gardunha, que, aliávamos à apanha de algumas castanhas. Os graves incêndios de 2017 na Gardunha, deixaram uma grande parte da floresta destruída, onde se incluíam os fantásticos castanheiros que nos permitiam encher os bolsos de tão saboroso fruto. Mudamos de rota, percorremos desde essa altura os trilhos da Serra da Malcata, entre o concelho de Penamacor e Sabugal.

Preparado o farnel para a caminhada, saímos com o sol acabadinho de nascer, mas escondido atrás das negras nuvens, que poderiam largar a tão desejada chuva a qualquer momento.

Aproveitando o meu recente hobby, observação de aves, iriamos fazendo ao longo do percurso, algumas paragens em locais estratégicos, afim de fotografar e observar o passaredo.

Sabugal
Melro d'água no Sabugal créditos: Carlos Figueiredo

De Alcains, seguimos em frente, passamos Penamacor e paramos na Meimoa para uma sessão de observação das aves junto do rio. Esta pequena aldeia, tem sabido aproveitar a sua localização. Aproveitando a ribeira da Meimoa que vai desaguar do rio Zêzere, desenvolveu uma zona de lazer com grande procura no período estival onde também se pode observar a bem conservada ponte romano-filipina.

A viagem continua. Não muito longe, fica a Barragem da Meimoa, barragem inaugurada em 1985, inserida na Reserva Natural da Serra da Malcata, que, juntamente com a Barragem do Sabugal, fornece água para o aproveitamento hidroagrícola da Cova da Beira. Talvez por ser uma barragem de aterro muito funda, com margens altas, a diversidade de aves aquáticas é muito reduzida. Costumo observar mergulhão-de-crista, corvo-marinho e pouco mais. Fazemos, no entanto, uma breve paragem para registar e fotografar aves daquele local.

Junto da barragem, observo movimento, um pequeno corço teria caído e estava preso dentro do descarregador com 3 metros de altura. O coitado bicho, já ofegante, cuja lenta morte seria a mais certa, teve a sorte que muitos outros animais não têm.

Mapa Serra da Malcata
Roteiro do passeio do Carlos pela Serra da Malcata créditos: Google Maps/SAPO Viagens

Devido à falta de rede naquele recôndito local, contactei o 112 que prontamente tomaram conta da ocorrência, transferindo as informações para a GNR de Castelo Branco. Não fiquei para observar o resgaste, o meu trabalho estava feito.

Deixámos a barragem para trás, assim como o Meimão. Já no Sabugal, com o rio Côa e o castelo a meus pés, foco a observação no melro d’água. É tão rápido a aparecer como a desaparecer, mas o registo fica feito. Em Quadrazais, terra de bonitas memórias da minha infância, apanhamos dez quilogramas de saborosas castanhas e muitas picadas nas mãos e pés. Fazemos ainda uma visita ao cemitério, onde meus avós (Aires e Luisa) descansam. A bucha foi guardada para ser tomada na Lameira. A Lameira é dos mais bonitos locais de Portugal. A água do rio Côa corre pura, fresca, límpida, selvagem com um leito rodeado de altas e verdejantes árvores. O dia termina em harmonia com uma breve passagem por Alfaiates e Soito.