"Registou-se uma interrupção na tradição de se fazer a Fogueira do Galo, talvez devido ao despovoamento do território e à falta de vontade dos mais novos. Contudo, estamos a tentar recuperá-la e, este ano, vamos fazer uma grande fogueira [do Galo] fruto do empenho de pessoas de várias gerações", explicou à Lusa o padre Rufino Xavier, um dos impulsionadores da iniciativa.

A Unidade Pastoral de Nossa senhora da Visitação, em Vimioso, na diocese de Bragança-Miranda, colocou mãos à obra e reuniu um conjunto de pessoas de várias idades com vontade de revitalizar esta tradição natalícia, para que a mesma não caísse no esquecimento.

"O objetivo é trazer o convívio entre todos nesta quadra natalícia", vincou o clérigo.

"Antigamente, os rapazes solteiros da vila eram nomeados na paróquia tendo a seu cargo, ano após ano, a missão de fazer o presépio e ir à lenha para a fogueira. Temos cada vez menos jovens no concelho e as tradições vão-se perdendo. Vamos tentando revitalizar este tipo de função com recurso às pessoas que vão mostrado vontade", concretizou o pároco de Vimioso.

Rufino Xavier adiantou que este ano "há muito vontade em realizar a fogueira do Galo", bem como "todas as outras tradições ligadas à noite da consoada".

"Já temos muita força de braços, cerca de 15 tratores e duas máquinas retroescavadoras que vão ajudar na tarefa de transportar a lenha para junto da igreja matriz, lugar onde se acenderá a fogueira do Galo", disse, demonstrando orgulho no ato de recuperar esta tradição em Vimioso.

O programa das tradições está pronto, onde não falta o tradicional "mata-bicho", com produtos regionais, e uma bênção das máquinas agrícolas. O dia prossegue com a apanha da lenha, terminando com o desfile dos tratores carregados de troncos.

"Não podemos recorrer à tradição de carregar a lenha em carros de bois ou realizar outras atividades mais tradicionais, porque não há gente. Perante este facto, temos de inovar", frisou o padre.

A tradição da fogueira do Galo um pouco por toda a Terra Fria Transmontana carrega consigo aquele que é considerado pelos investigadores como "um ato de iniciação e emancipação dos rapazes em idade da puberdade”, e que está "vedado" às raparigas.

"Trata-se de um ritual que vem de há milhares de anos e que está inteiramente ligado ao solstício de inverno, onde só entram rapazes", disse à Lusa o investigador António Rodrigues Mourinho.

Para o investigador, as fogueiras do Natal ou fogueiras do Galo em todo este território assumem-se, "desde há muitos séculos", como um dos elementos mais importantes da cultura popular dentro desta ‘época escura’”.

Apesar de ser um costume que se vai perdendo, “ainda há localidades que teimam em manter acesa esta tradição ancestral”, disse.

"O ritual das fogueiras solsticiais remonta, pelo menos, aos tempos dos egípcios e outros povos do Crescente Fértil, como uma forma de provocar o sol para que se fortaleça em luz e calor. E no nosso território, a crença é a mesma", concretizou António Rodrigues.

No entanto, a igreja chegou ao longo dos tempos "a proibir estes rituais pagãos”, concluiu.