Beatriz (@beatrizccaetano), a portuguesa que viajou e sem bilhete de volta a Portugal, está neste momento em Se Ua. Tudo o que ela queria era aquele ‘hotel’ para descansar depois da corrida da bicicleta enferrujada, o desafio à lei da física em caminhos íngremes. Mas, surpresa: às 6h da manhã acorda com gritos de crianças pois, afinal, aquilo era um ATL! E o pai de uma das crianças ouvia reggaeton desde o disparar da aurora. Beatriz Caetano é uma ‘festeira nata’, mas só queria dormir e aquele reggaeton era o terror da alvorada. Ora, no regresso para outra zona de Costa Rica - Cocles - foi numa carrinha preparada pelo dono do “ATL”, a acomodação gritante de se fugir. Nessa carrinha cabia ela, o condutor e quase as mochilas, pelo que nem lhe foi cobrada a terceira noite pois não quis ficar mais tempo e o barulho de reggy com as brincadeiras matinais dos meninos não era propriamente o esperado nesta viagem-aventura.

Depois seguiu na bicicleta até Puerto Viejo, “faminta e cheia de chuva”, para o momento de compras no supermercado. E na Costa Rica aviso que tem vários supermercados com muito bom abastecimento. No meu caso, lembro de dançar com uma melancia e ter o staff a olhar para mim como se fosse um alien. E, depois de compreenderem que era autêntica a minha paixão pela melancia e pela música, todos batiam palmas. Eu viajava sozinha naquela altura. E estava tão feliz que entendo a resiliência da Bia.

Ora, mas ela não quis levar as malas (deixou-as em Manzanillo para depois ir recuperá-las) por causa do peso que aquelas iriam criar na bicicleta. E a Bia já conhecia a famosa bicicleta. Mas, como fazer agora? Viu-se com imensas compras, bicicleta ferrugenta moribunda, chuva tropical e máscara a gerar “hipoxia”. Teve de alugar um tuk-tuk que, por acaso, lhe apareceu no momento e cobrou 8.000 colones. Isto “safou” a Bia para o seguinte trajeto: do supermercado até entregar a bela da bicicleta, depois comprar o cartão SIM, daí para Manzanillo para recolher as malas e… por fim ir para Cocles.

Viagem pela Costa Rica

Em Cocles, num bungalow de sonho, foi recebida pela anfitriã que segundo ela: “parecia a mãe da Pocahontas”, com cerca de trinta anos. Ela reitera que a senhora falava imenso, mas que ali provavelmente as pessoas estão necessitadas de conviver e daí falarem muito.  Desde que aterrou, sente isso. A senhora transbordava simpatia e tinha três “cães gigantescos”, frisou a Bia. Finalmente adormeceu e a chuva ouvia-se, do lado de fora, fortíssima. Mas só a embalou.

Porém, acorda com algo inacreditável: a ‘senhora Pocahontas’ sentada no alpendre com o marido “de mochilas e sacos ao ombro a dizer que a casa deles (…) que estava construída num monte (…) o dilúvio foi tal que houve um deslizamento de terra e a casa caiu toda”, sendo que o vértice da casa ficou suspenso… tudo tombado com árvores e uma mistura apocalítpica com postos de eletricidade: “à filme do impossível” diz a nossa bem-humorada. No entanto isto não acaba aqui, a Bia vai ao lava-loiças de apanha um choque “de cima a baixo”. Depois, continua a ver os caseiros “sem sítio onde ficar” e mirando a vida no alpendre da Bia.

Viagem pela Costa Rica

Os senhores foram embora, mas deixaram os três cães com ela: “pet sitting”, sente a Bia. Seria? Mas enquanto fala comigo eles ladram e ela está encantada (e confusa) com eles e com o tamanho dos bichos.  Enquanto escrevo, enquanto ela relata a aventura, surge o que mais aprecio, os momentos ainda mais autênticos como este: “Hey, está ali uma lâmpada a deitar fumo” – ela teve de parar de falar comigo e foi resolver. Julgo!

Entretanto “meti o dedo na manteiga de amendoim e levei outro choque” – bem, os choques continuaram. Ora a coisa não era comensurável: por 40 euros/noite ponderou e falou com os caseiros para poder ela abandonar o lindo bungalow na maravilhosa Cocles. Na verdade, só restava ela ali, já que todos tinham ido embora. Mas e os cães? Nisto a Bia interrompe a ‘entrevista’ com ‘o que foi cão?’. Fiquei expectante… será que a Bia está tão apaixonada pelos três cães que se vai submeter a ser eletrocutada e a continuar debaixo de plátanos, apesar da paisagem maravilhosa de Cocles? O que vale é que Costa Rica é tão extensa.

Bia, ainda te faltam muitos passos para atingires o nirvana de Costa Rica. Vou guardar o segredo, pois eu conheço o local mais incandescente deste país, na minha opinião. E tu também vais conhecer, sem choques elétricos, sem ATLs, sem bicicletas estranhas e onde os animais são mais do que livres. E os três cães colossais? Até breve.