Chegar sem sobressaltos

O Arlanda Express é a primeira mostra da obsessão sueca pela funcionalidade. Em apenas 20 minutos, este comboio liga o aeroporto internacional ao centro da cidade, com conforto e pontualidade. Custa cerca de 50 euros ida e volta por adulto, mas elimina o desgaste de um transfer demorado — o que, com crianças, vale ouro.

Alojados no Radisson Blu Royal Viking Hotel, mesmo ao lado da Estação Central, ficámos no centro de tudo. Embora tenha um perfil corporativo, revelou-se uma boa base para famílias: piscina interior, quartos espaçosos e acesso direto ao metro. Em Estocolmo, a mobilidade urbana não é um luxo, é uma extensão natural da vida quotidiana.

Carrinhos por todo o lado (e ninguém torce o nariz)

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Viajar com bebés ou crianças pequenas em Estocolmo é, literalmente, mais fácil. A cidade é plana, os passeios largos, e os transportes públicos acessíveis. Os sistemas de transporte funcionam com precisão suíça, e o metro (Tunnelbana) é também uma galeria de arte subterrânea. Estações como Solna Centrum ou Kungsträdgården são autênticos espaços de intervenção artística. E, se for preciso descansar as pernas pequenas, o autocarro turístico 'hop on-hop off' pode ser um bom complemento.

Em frente a cafés e museus, há zonas específicas para deixar carrinhos. À chuva, à neve, ninguém se incomoda. Numa cultura onde o espaço público é pensado para todos, as crianças não são toleradas: são bem-vindas.

Museus com ritmo (e sem condescendência)

The Viking Museum

Nada de vitrinas estáticas. Aqui, os visitantes percorrem réplicas de casas, mercados e campos de treino viking, e as crianças são convidadas a tocar, experimentar, simular. O ponto alto é a Ragnfrid’s Saga, um pequeno comboio imersivo que conduz os visitantes por uma narrativa encenada: acompanhamos Ragnfrid e o seu marido Harald numa viagem por aldeias escandinavas do século X, com cenários sonoros e visuais que vão muito além da recriação turística. É história a sério, contada com ritmo e estética.

Vasa Museum

O Vasa é um navio de guerra do século XVII que se afundou pouco depois de zarpar. Resgatado dos fundos do mar 333 anos depois, está hoje exposto num edifício projetado à sua medida. A escala do navio impressiona, mas o museu não se limita ao espetáculo: contextualiza a engenharia, a política e a vida a bordo. É um lugar que prende os olhos e o pensamento — mesmo para crianças.

Livrustkammaren

No subsolo do Palácio Real, este museu de armas e indumentária real tem uma secção dedicada a crianças, e é provavelmente uma das mais inteligentes da cidade. Disfarces de época, miniaturas de tronos e uma zona de “encenação histórica” permitem que os mais pequenos participem ativamente. E sim, há uma área dedicada aos unicórnios e ao universo do conto de fadas, como símbolos de fantasia e realeza.

ABBA - The Museum

Mesmo quem não conhece o grupo sueco é facilmente conquistado. O espaço é todo ele interativo: há hologramas, karaoke, estúdios de gravação e figurinos originais. Um lugar dinâmico e bem construído, onde a música funciona como linguagem universal entre gerações.

A viagem em imagens na galeria abaixo

Imaginação em movimento

Junibacken

Situado na ilha de Djurgården, o Junibacken é dedicado à literatura infantil sueca, com destaque para Astrid Lindgren e a sua Pippi das Meias Altas. A verdadeira alma do espaço, porém, está no Story Train, um teleférico narrativo que percorre cenários tridimensionais de histórias suecas, com narração, música e movimento. É uma viagem imersiva pela imaginação escandinava, construída com rigor artístico. Há ainda uma livraria, um teatro e zonas de brincadeira interior. Tudo pensado para envolver, sem excessos plásticos ou barulho gratuito.

Skansen: tradição e natureza

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Fundado em 1891, o Skansen é o museu ao ar livre mais antigo do mundo. Recria aldeias tradicionais suecas, com casas autênticas, oficinas de ofícios e... um pequeno zoológico com animais nórdicos. É possível ver linces, ursos, alces e renas num ambiente controlado mas naturalizado. A experiência é mais imersiva do que contemplativa, ideal para crianças que precisam de correr, tocar, ver. Há áreas de piquenique, restaurantes familiares e uma agenda cultural sazonal que enriquece a visita.

Gamla Stan

A cidade velha de Estocolmo, merece pelo menos uma tarde sem pressas. Com ruas empedradas, edifícios ocre e praças que parecem suspensas no tempo, é aqui que a cidade revela o seu lado mais cénico. Apesar do ar turístico, mantém uma escala humana e um ambiente acolhedor, ideal para passeios com crianças. Há pequenas lojas de brinquedos tradicionais, cafés com bolos de canela e livrarias com edições em várias línguas. É neste bairro que se encontra o Museu dedicado ao Prémio Nobel, numa das praças mais emblemáticas da capital.

No coração da água

Estocolmo é atravessada pelo rio Norrström, um dos muitos canais que ligam o lago Mälaren ao Mar Báltico. A cidade, construída sobre 14 ilhas, vive em função da água. Um passeio de barco pelas margens oferece uma perspetiva serena da capital, com paragem recomendada em Södermalm.

Este bairro, que em tempos foi zona operária, é hoje um dos núcleos mais criativos da cidade. Cafés independentes, lojas de design local, parques, livrarias infantis e uma arquitetura que conjuga o tradicional com o alternativo. É aqui que a cidade parece respirar com mais liberdade. Mais jovem, mais urbana.

Comer bem (mesmo com crianças)

No Aifur Krog & Bar, a experiência vai além da refeição: é um regresso à era viking, com música ao vivo, decoração em madeira, pratos com nomes históricos e uma atmosfera cuidadosamente construída. Apesar do tom temático, a comida convence. E há sempre alternativas vegetarianas e menus infantis. Em Estocolmo, a oferta alimentar é quase sempre inclusiva e pensada para todos. Não se esqueça de reservar com antecedência.

Estocolmo é um modo de vida

Não há grandes fachadas para selfies nem pontos 'instagramáveis' óbvios. O que Estocolmo oferece é outra coisa: previsibilidade, conforto, espaço, silêncio, respeito. Quando se viaja com crianças, isto é mais do que desejável. É revolucionário.

No regresso, talvez não tragamos imagens de cortar a respiração. Mas levamos a sensação de ter estado num lugar onde a infância é respeitada e a vida urbana funciona. E isso, hoje, é raríssimo.